quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

FILTRO DE ÓLEO PERMANENTE

Dizem que uma ideia não pode ser chamada assim se não for loucura...

Eu sempre achei algo um tanto desnecessário o uso de filtro para o óleo que lubrifica alguns motores, como é o caso da  Intruder.

Do ponto de vista financeiro, o impacto não é grande, a sua troca periódica custa apenas R$15-18 por mês (na minha média de troca de óleo), mas vamos multiplicar esse valor por 12, 24 vezes, e assim por diante...

Muitos podem argumentar que o filtro é indispensável, pois retém as impurezas que o atrito entre as engrenagens soltam dentro do motor, bem como impedir que a borra que se forma como subproduto do óleo usado se espalhe pelo motor. Assim fosse, não existiriam motos que dispensam tal filtro: eu mesmo já tive uma YBR e uma Titan 150, as quais forcei o motor ao máximo até altas quilometragens e nunca apresentaram problemas, como tantas outras motos sem filtro de óleo que existem rodando.

Filtros de óleo: até que ponto são dispensáveis?

Mas é uma verdade que o atrito entre as peças do motor de fato ocasionalmente produzem de metal, e o óleo com o passar da quilometragem vai se decompondo e formando depósitos de carbono, a famosa ‘borra’, que tende a grudar nas engrenagens e outras partes do motor causando danos e mau funcionamento.
O que faz tais partículas surgirem no motor? Falta de óleo no cárter ou óleo velho, ‘tranco’ no motor para dar partida, embreagem gasta ou seu cabo mal regulado, uso inadequado da embreagem (manter a moto debreada durante uma parada mais longa, por exemplo) troca de marcha em velocidade errada, com o motor acelerado, ou sem acionamento da embreagem, etc.

O ÓLEO CERTO

O óleo lubrificante em si existe para evitar tudo isso, em tese, não seria necessário mais nada, uma vez que ele foi sintetizado para o exato propósito de minimizar os efeitos do atrito. Portanto, usar um filtro de óleo nada mais seria do que uma precaução extra.

No caso da Intruder, o problema maior, a meu ver, é que ela foi projetada para o uso do óleo 10W50, um óleo bem menos viscoso do que o popular 20W50. O óleo mais viscoso, muito embora forneça uma proteção extra (não fica tão ‘fino’ com o tempo), pode formar com mais facilidade a borra, exigir um esforço extra das peças para se movimentar, aumentando assim o consumo de combustível e calor no motor. Por outro lado,  um óleo mais ‘fino’ assegura que sujidades sejam mantidas longe das peças por ser mais fluído, além do que na hora da troca de óleo, ele as escoa com mais dificuldade para fora do motor (salvo as que ficaram retidas no filtro).

Então, como fica a situação do filtro? Já que existe um lugar para ele no motor, não podemos simplesmente excluí-lo e deixar o motor com um ‘buraco’. Foi então que comecei a pensar numa peça que pudesse atuar como o filtro de óleo, mas que não dependesse de trocas constantes.

O filtro de óleo convencional, feito de papel, retém partículas finíssimas, da ordem de nanômetros. Então pensei: uma partícula tão minúscula poderia ser uma ameaça tão grande a ponto de justificar a filtragem do óleo? Decidi por minha ideia em prática.

Primeiramente, desmontei e limpei um filtro convencional, descartando o elemento filtrante, de papel laminado com algodão. O que eu tinha em mente era reaproveitar essas partes junto com um material que pudesse ser limpo e reutilizado a cada troca de óleo. Tentei vários tecidos e polímeros, mas nenhum suportou o teste da temperatura do motor.

Um filtro de óleo da Intruder desmontado: a matéria-prima


Foi então que, andando à procura de novas opções, vi alguns filtros de óleo de caminhões, e observando suas malhas internas de metal, pareceu-me que finalmente achei o que procurava. Essas malhas, na verdade, são chapas de ferro em forma de cilindro que possuem vários furos e desenhos vazados, cujo objetivo na verdade é servir de suporte para o elemento filtrante também de papel , como nas motos.

Sucata de um filtro de óleo de caminhão...

De onde retirei o que viria a ser o elemento filtrante do filtro permanente.

Escolhi uma das peças que tinha pequenas frestas distribuídas ao longo do cilindro. Após estudar  e limpar a peça, recortei-a nas medidas certas e montei-a na carcaça do filtro de óleo da moto com cola para juntas de motor diesel. Mas não foi tão simples, eu tive prensar as frestas desse novo elemento filtrante a fim de que não ficassem muito abertas, assim como tive que fazer micro-furos ao longo da faixa de sustentação da chapa. Tive muito trabalho para garantir que detritos e brechas muito largas não inviabilizassem o filtro – obviamente, ele não seria tão eficiente como o filtro comum, mas deveria reter partículas que eventualmente viessem a representar alguma ameaça ao motor.

junção das peças após recorte do elemento filtrante.

Abertura de microfuros para ampliar a área de filtragem.

Acabamento com lixa fina - peça pronta.

Como o filtro permanente é oco em relação ao filtro de óleo convencional, foi preciso considerar a quantidade de óleo extra para suprir a lacuna do novo filtro. Calculando o volume no interior do filtro, (Volume=pi x raio do círculo x altura do cilindro), cheguei ao valor de 50,24 cm3, ou 50 mL, no total, quase que um litro completo de óleo.
Então foi montar e rodar, inclusive na rodovia, a 110 km/h. Externamente, tudo pareceu inalterado. A única maneira de saber o que realmente aconteceu com o motor é esperar a troca de óleo.

O filtro que projetei deveria cumprir dois quesitos básicos: 1 - filtrar, apesar de ser mais permissivo; 2 – ser durável, resistir ao trabalho do motor a cada ciclo de troca de óleo.
Então rodei os 1.000 Km com óleo 10W30 (não encontrei o 10W50), e fiz a troca de óleo. O filtro que construí estava tal como eu o coloquei, o que significa que ele passou pelo teste de durabilidade. Quanto à funcionalidade, qual seja, a capacidade de filtragem, após passar por uma limpeza com gasolina, pude perceber minúsculos ciscos no fundo do recipiente (tentei fotografar, mas ficou confusa a foto), o que significa que ele foi capaz de reter inclusive micropartículas e poder ser limpo das mesmas para retornar ao motor.

Mas como isso foi possível sem um elemento filtrante como o papel? Existe um fenômeno físico chamado 'eletricidade estática', que ocorre quando um corpo se carrega de elétrons com o atrito de outro corpo. Embora o óleo evite que isso aconteça em relação às micropartículas, quando presentes dentro do filtro o espaço restrito faz com que as partículas no óleo se choquem com as paredes metálicas do filtro, acabando por fim se tornando eletricamente carregadas, o que as faz 'colar' nas paredes do filtro. É uma explicação plausível para a retenção das partículas nanométricas.

O filtro após 1.000Km: apenas sujo.

Zoom.

Lavagem com gasolina: pronto para mais 1.000Km.

VIDA ÚTIL

É difícil predizer. Enquanto houver integridade estrutural entre as peças do filtro e a filtragem for possível, ele poderá continuar sendo utilizado, mesmo porque ele é confeccionado em metal.

E a pergunta inevitável: e o impacto desse filtro na vida útil do motor? Como já é sabido, a longevidade do motor depende do óleo, e não exatamente de sua filtragem, haja vista que ele já contém os aditivos para atender as demandas do motor. A viscosidade correta, o uso de óleo em frascos lacrados, a troca na quilometragem certa, assim como o manuseio correto do motor, isso sim pesa mais na vida do motor do que um filtro.


Finalmente, o filtro de óleo permanente é um projeto resultado de um ponto de vista pessoal. Cautela nunca é demais – aquele que prefere seguir as definições do fabricante segue o caminho mais seguro, e isso é tudo. Até então, o meu projeto deu certo, mas ainda há milhas e milhas para saber qual será sua real repercussão. No caso do filtro convencional, desde 2002 já sabemos que ele funciona... mas foi questionando, ousando e tentando que conseguiram evoluir da moto movida a vapor para as fantásticas motos de hoje.

A primeira motocicleta de 1867 movida a vapor, e seu inventor, Sylvester Howard Rope (Fonte: Estradas da Liberdade).