terça-feira, 30 de janeiro de 2018

VELAS: EXISTE DIFERENÇA?


Este é um assunto que beira o legendário urbano. Vela com centelha maior melhora o desempenho, a potência do motor? Traz mais economia? E por aí seguem as várias vantagens que velas não convencionais proporcionariam às motocicletas.

Porém, é fato que a indústria de peças se esforça em oferecer aos motociclistas uma variedade de velas fabricadas com diferentes materiais, designs e tecnologias no esforço de superar o desempenho médio das velas simples.

Portanto, vou compartilhar o resultado de minhas pesquisas e experiências com algumas velas. Não vou estabelecer um ‘ranking’ das melhores, mas vou compará-las entre si. Ainda, por mais especiais que sejam, as velas acabam expostas a variáveis que no final acabam anulando a sua vantagem (p.e., um motor com problemas na bobina de ignição ou cabo de vela), sem falar no efeito psicológico gerado pela expectativa do piloto.

1 – BOSCH PLATINUM

Diferencial: 3 eletrodos terra


Além de trazer os elementos platina e irídio nos eletrodos, supercondutor e super-resistente, respectivamente, possui ainda multi eletrodos, ou seja, três eletrodos laterais. A ideia desse design é multiplicar a centelha que sai do eletrodo central, mas na prática não é o que acontece, pois a descarga elétrica se conclui apenas em um ou dois eletrodos no máximo, e não os três de uma vez, como o esperado. De qualquer forma, foi elencada na Internet como uma das melhores velas de ignição. Aliás, só o nome da marca já merece crédito. Infelizmente, não possui modelo para a Intruder ou outras motos.

2 – NGK LASER PLATINUM

Platina: supercondutor


A famosa marca NGK apresentou sua própria proposta que utiliza a platina para melhorar a cintilação da vela, que equipa a poderosa Kawasaki Ninja de fábrica. A verdade é que, a não ser pelo preço, esta vela e a famosa Iridium IX de mesma marca não possuem muita diferença em termos de desempenho, salvo ainda que a Iridium possui maior durabilidade (em torno de 100 mil km).

3- CHAMPION COOPER PLUS

Eletrodo de cobre, um metal com boa conductibilidade.


Uma marca famosa no mundo motociclístico, especialmente fora do Brasil. Essa versão possui o metal cobre em seu eletrodo central, melhorando consideravelmente a produção de centelha. Uma vela modesta, porém certamente melhor do que uma convencional.

4 – DENSO IRIDIUM TT

Com eficácia desconhecida, os dois eletrodos se projetam um em direção ao outro.


Um novo design da marca, que aposta numa espécie de ‘segundo eletrodo central’ afixado na parte de baixo do eletrodo terra para facilitar a formação de centelha. Nunca comprei nem vi testes, mas acredito que o desempenho não varie muito em relação às demais velas de irídio da marca.

 5 – DENSO IRIDIUM POWER

O formato de 'U' na ponta do eletrodo terra garante uma centelha mais potente...

Ousando mais uma vez no desenho do eletrodo terra, a marca dessa vez colocou uma minúscula cavidade na ponta do eletrodo, com a intenção de melhorar a concentração de eletricidade, ampliando a centelha. Essa eu comprei e usei, esperando o anunciado desempenho superior a outras velas de irídio. Em tese, isso pode até ser verdade, mas a cavidade no eletrodo, chamada ‘U-groove’ (pelo formato de ‘U’), com o tempo acumula os resíduos da queima na câmara de combustão, de modo que seu papel acaba sendo anulado, levando a vela a ter que fechar a centelha em outros pontos do eletrodo terra. Resolvi guardar a minha como vela reserva.


6 – NGK IRIDIUM IX

Simples, acessível, funcional.

Do modelo convencional ao fabricado com irídio, a NGK apresenta indiscutível excelência na fabricação de velas de ignição. Uma das peças responsáveis pelo ponto de virada da minha moto para um nível acima foi essa vela. Sem sombra de dúvida, sua durabilidade e poder de queima são notáveis, o que reflete na força do motor e na economia. Na dúvida sobre qual vela é melhor, eu apostaria na NGK IRIDIUM – motos do porte da Intruder 125 não precisam de mais do que isso. Eu a considero a ‘AK-47’ das velas: simples, funcional, confiável.

7 – PULSTAR PLASMA CORE

Vela de plasma...

Seu desempenho, à esquerda, junto de uma vela Iridium IX: uma pena não ser fabricada para motos.


A cereja do bolo. Uma vela que, se fosse desenvolvida para motos, seria o ponto de virada para combustão completa, economia, potência e vários outros atributos pefeitos do motor. Essa vela foi desenvolvida pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, o seu principal nicho de mercado. O seu segredo é um capacitor especial no centro da vela que gera o chamado ‘plasma’, uma ignição várias vezes maior do que a de uma vela Iridium IX, por exemplo. Com uma vela dessas, eu conseguiria fazer minha Intruder ultrapassar os 120 km/h, sua marca atual, pois não adianta melhorar a alimentação do motor sem uma queima à altura – e a Pulstar é a única vela conhecido que me daria isso. Para equipar motos, a Pulstar deveria ser eletronicamente redesenhada, ou as motos (talvez inevitavelmente) deveriam alterar todo seu sistema elétrico para comportar suas poderosas descargas.


Acontece que o assim chamado ‘plasma’ nada mais é do que uma descarga concentrada de eletricidade gerada por uma corrente ampliada pelo uso de capacitores, ou seja, o segredo das ‘velas de plasma’ como a Pulstar é o uso de um capacitor de elevado potencial. O mesmo efeito pode ser obtido utilizando-se os famosos cabos de vela ‘I-Booster’, quando munidos de capacitores – Os cabos chamados de restritivos, equipados apenas com diodos e resistores, mantém a corrente inalterada, apenas evitam sua perda e melhoram sua continuidade. Por fim, a centelha de um cabo de plasma possui uma duração dez vezes menor que uma centelha comum, ou seja, inversamente proporcional à sua duração.

8 VELA FIRESTORM

Eletrodo central expandido e lateral em um arco fechado.

Com o eletrodo em formato de arco indo de um lado a outro da borda do eletrodo negativo, parece ser muito eficiente, produzindo uma centelha ampla em vários pontos do arco. Não encontrei qualquer menção de seu uso em motos, mas seria uma proposta interessante.

VELA RASTREANTE

A centelha se conclui no pistão, deixando uma leve corrosão.

Não é exatamente uma marca de vela, mas sim a criação do inventor brasileiro J. Artur Graf, a partir de uma simples vela de automóvel devidamente adaptada.

Esta vela basicamente é uma vela comum com o eletrodo negativo removido assim como cerca de 6 a 8 mm de sua rosca, o que é compensado pela remoção da mesma medida do corpo da vela. A ideia principal dessa modificação é fazer com que a centelha da vela dentro da câmara de combustão aconteça em contato com o pistão com sua subida na fase de compressão, garantindo uma centelha mais longa, abrangendo toda a mistura comprimida.

A vela rastreante tem um pequeno efeito colateral, que é provocar uma leve corrosão no ponto de contato da centelha com o pistão após cerca de pelo menos 80.000 quilômetros (em um carro Fiat, segundo vídeo do próprio Graf). Mas a sua proposta de queima completa e mais economia, além da possibilidade de conversão de qualquer vela para essa configuração, levou-me a fazer minha própria vela rastreante, inspirados nos vídeos sobre o tema.

Como eu tinha uma vela Denso Power que usava como reserva, removi a medida necessária da rosca e do eletrodo negativo, mas não alterei o corpo da vela – em geral, para um serviço bem sucedido, é necessário um torno mecânico, além do que o calor de um esmeril poderia danificar a vela, que já havia sofrido o revés de perder a ponta do eletrodo durante a remoção da rosca (um deslize – felizmente, isso não comprometeu a vela, já que não dependeria do eletrodo negativo), então resolvi compensar o recuo da rosca com a remoção das arruelas de vedação (sinceramente, essas arruelas para mim são inúteis – se de fato é necessário um encaixe próprio para o colo da rosca no cabeçote, bastaria fazer o chamado ‘assento cônico’, que é o corpo da vela no formato adequado ao contato com o cabeçote). Além do mais, a quantidade que eu precisaria remover era simplesmente todo o corpo da vela, mais uma razão para não fazê-lo.

Vela Denso normal...

Denso 'rastreante', após corte da rosca.

 O corte da rosca em relação ao eletrodo positivo e seu envoltório isolante serve para impedir que a centelha retorne para a borda da rosca, forçando a descarga elétrica a fechar o circuito no pistão, o contato mais próximo. Em termos de desempenho, a vela rastreante foi muito semelhante à Iridium IX. Quando saquei a vela para verificar sua condição, a borda da rosca estava fuliginosa, então percebi que algo estava errado – uma queima mais ampla deveria apresentar uma vela mais límpida. Deduzi que o corte da rosca não foi suficiente, e na tentativa de ampliá-lo (de 3mm passei a mais que o dobro), creio ter danificado a vela, e não pude conduzir os testes avante.

OS CABOS DE VELA

Sabe-se que uma vela não funciona sozinha, quer dizer, ela depende de algo que conduza a corrente da bateria e da bobina para ela. Então chegamos à importância dos cabos, que são tão ou mais importantes do que marcas de velas. Isso porque, como todo aparato elétrico, cabos emitem e recebem energia eletromagnética, além do que a sua condutividade vai determinar se a eletricidade vai alcançar a vela na quantidade especificada.

Portanto, um cabo com oxidações, avarias, desencapes, assim como um cachimbo de alguma forma defeituoso, criam fugas e resistências para a eletricidade, interferindo no desempenho da vela.

Eu nunca havia mexido no meu cabo de vela em si, até o dia em que resolvi fazer um cabo I-Booster, utilizando um diodo e um resistor (ver foto. Quem quiser tentar, monte da mesma forma resistor de 100 ohms nas cores marrom-preto-marrom-dourado num diodo de 6 a 10 Ampères de 1000 Watts). 

Esquema de resístor montado em diodo para cabo resistivo.

Percebi que o cachimbo era rosqueado diretamente no cabo da vela, sendo que ambos estavam enferrujados, e de uma forma que defino como precária: o fabricante simplesmente colocou um parafuso soberbo no miolo do cachimbo e o rosqueou diretamente nos filamentos de cobre no interior do cabo, sem qualquer conector próprio. Quem garante que as voltas do parafuso não estariam danificando o fio à medida em que é enroscado?

O parafuso do cachimbo é simplesmente enroscado no cabo, sem qualquer tipo de conexão própria.

Mesmo com essa deficiência, tentei tunar o cabo, mas não tive bons resultados. Dizem que os cabos especiais melhoram a força do motor e a economia, por promover uma queima mais completa, e também que o primeiro sinal se verifica na marcha lenta, que se torna ligeiramente mais rápida. Mas não foi o que aconteceu comigo, então mudei de estratégia: melhorar o meu cabo.

O que minha moto tem feito com esse cabo ridículo é quase um milagre (eu estou pensando em fazer um post enumerando as falhas que Intruder traz tanto como erro de projeto como de execução). Nem alguns modelos ‘ching ling’ trazem uma vergonha dessas. Como eu já tinha cortado um pedaço do cabo para fazer o I-Booster, perdi mais vários centímetros para fazer um terminal de encaixe mais adequado para o cabo e o cachimbo. Além do mais, o fabricante escolheu um cabo muito fino e frágil: com apenas 5 filamentos de cobre, é praticamente impossível manipulá-lo sem que se quebre. Após sucessivas tentativas, e mais centímetros perdidos, consegui colocar um conector de cobre que permitia o rosqueamento do cachimbo.

Um tubo de cobre...

devidamente preparado...

para ser preso ao cabo da vela e servir de conector ao cachimbo, melhorando a condutibilidade.

Pelo menos, um cabo mais curto significa que a corrente precisará percorrer um espaço menor, havendo menos dissipação de energia. Liguei a moto e rodei, e percebi que a marcha lenta sofreu uma ligeira alteração, assim como o motor parecia trabalhar mais suavemente, e o desempenho, especialmente nas altas rotações, melhorou sensivelmente. Parece que eu estava no caminho certo, eu havia melhorado, pelo menos ligeiramente, a centelha, apenas melhorando o cabo de fábrica. Quanto a economia, eu deveria esperar o tanque esvazia para calcular e comparar os resultados.

E para finalizar, vale citar o Cabo de Silicone, o qual, além de ser revestido por silicone, material de durabilidade melhor que a borracha dos cabos comuns, possui um fio de aço, o que proporciona também melhor condutibilidade. No entanto, isso é discutível: o Cobre, metal do qual são feitos os cabos comuns, é muito mais condutor de eletricidade que o ferro ou o aço. Aqui devemos voltar à péssima qualidade do cabo de fábrica da Intruder: a rosca do cachimbo é de ferro, quando, assim como o cabo é feito de cobre, deveria ser feito com o mesmo metal para preservar a conductibilidade.

CACHIMBO DA VELA

Não é viável alterar o cachimbo original da moto, isto é, remover o resístor que ele traz em seu interior para refrear a carga elétrica a ser lançada da vela. Na verdade, eu não compreendo porque os cachimbos em geral são resistivos, talvez seja uma medida de precaução contra uma carga muito forte emitida pela bobina de ignição.

Mas o fato é que existem cachimbos não-resistivos universais ou não que podem ser encontrados no mercado. Basicamente, eles são apenas uma extensão do cabo da vela para fazer a sua conexão final. Como não possuem resístor, eles lançam a descarga que chega da bobina inteiramente na vela, ampliando consequentemente a sua centelha.

o anúncio fala por si só - de fato, há uma melhora geral com a queima mais eficiente da mistura. (Fonte: Loja Race Custom).

Eu adquiri um desses cachimbos, e a diferença foi imediata, principalmente na estrada. Tive um ganho de desempenho considerável, minha moto vinha apresentando um cheiro incomum de gasolina, que foi eliminado. Mesmo reduzindo a quantidade de gasolina na mistura, com o cachimbo sem resístor, potencializei a economia de gasolina e mantive a performance da moto, chegando a atingir 13,47 cavalos (calculados através da fórmula: peso total moto/piloto(kg) x 9,81 x 1.000 metros/ tempo gasto 0 - 1.000m).

BOBINA DE IGNIÇÃO

Como peça indispensável no sistema de ignição, funcionando como a bomba d’água responsável por aumentar força da água a ser distribuída numa tubulação, no caso da ignição a força da corrente elétrica, não há muito o que ser feito nela propriamente dita, mas existem variações de desempenho de uma marca para outra.

Enfim, o ganho adquirido com uma boa bobina, um cabo adequado, e uma vela de Irídio, no final traduzem numa melhora sensível de desempenho – é o que eu já disse antes: a melhoria deve acontecer sistema como um todo, a chamada sinergia, que por si só é melhor do que qualquer marca de vela isoladamente.


A ideia deste post foi melhorar alguns modelos e conceitos interessantes de velas de ignição, e não exatamente as melhores. Para cada motor e piloto, sempre prevalece o caso em si.