terça-feira, 20 de junho de 2017

BOLHA NA INTRUDER?

Eu sempre faço questão de enfatizar: por mais que ‘envenenemos’ a Intruder, ela continuará leve e com um motor de arquitetura limitada (se for o original), sujeita à perda de desempenho na estrada em função de ventos, relevo da pista, etc.

Digo isso por experiência própria: pilotando sob um vento forte a ponto de fazer lavouras e árvores se inclinarem e pequenos tornados de poeira rodopiarem, a minha Intruder, que desenvolve uma média de 13,5cv, não conseguiu passar dos 100km/h mesmo na descida, e mesmo usando um para-brisa, comumente conhecido como ‘bolha’ ou ‘bolha aerodinâmica’.

Trata-se de um item em geral adquirido por estética ou para proteção contra insetos e outros fragmentos que poderiam se chocar contra o piloto em alta velocidade. Mas a bolha aerodinâmica, como o próprio nome diz, tem um papel fundamental também no desempenho da moto ao fazer com que o vento seja desviado para cima e para os lados da moto, ao invés de ficar retido no corpo do piloto, gerando a famosa ‘força de arrasto’ que eu gosto de chamar de ‘efeito para-quedas’.

Um bom para-brisas ou bolha tem grande influência no desempenho da moto (Super7Moto).

Eu já abordei este tema no post “Aerodinâmica Custom”, mas não dei o devido foco à Intruder. Motos mais potentes, acima de 250cc, podem prescindir de uma bolha, mas a Intruder, em que pese minha experiência no assunto, deveria vir de fábrica com o acessório. Na situação que descrevi acima, uma intruder original não conseguiria desenvolver 70km/h máximos.

Tanto pior se o piloto está vestindo uma jaqueta ou blusa que permite que o vento se infiltre inflando a roupa transformando-a literalmente num para-quedas, ficando sensível nesse caso o efeito de frenagem provocada pelo vento.

Logo, a bolha se presta a evitar o inconveniente de transformar o corpo do piloto em freio aerodinâmico.

Existem várias opções no mercado de várias marcas, mas vou comentar, a título de exemplo, sobre dois modelos mais comuns e que utilizei.

BOLHA E VELOCÍMETRO: O QUE TEM A VER?

Além de fazer o velocímetro avançar mais pela melhoria na aerodinâmica, alguns modelos de bolha podem simplesmente ‘enlouquecer’ o velocímetro e mesmo o contagiros, a ponto de se pensar que o painel ou os cabos estão com defeito. E isso pode acontecer não somente nos marcadores analógicos com ponteiros.

Mas não se trata de defeito no painel, pelo menos se a moto tem baixa quilometragem e relativamente pouco tempo de uso. Se estiver sendo utilizado um modelo de bolha cuja afixação permite que ela fique encostada no painel, simplesmente é a vibração da bolha provocada pelo atrito contra o ar em alta velocidade que está interferindo no mecanismo dos ponteiros.

Isso aconteceu comigo quando adquiri minha primeira bolha, feita de acrílico e afixada nos parafusos do farol. Por ter espessura fina, ela vibrava muito, o que resolvi com o uso esticadores presos ao guidon, o que deixou a bolha ainda mais colada ao painel. A consequência foi que acima de 80km/h, os ponteiros iam e vinham descontrolados. Fui descartando as causas até chegar à única coisa possível: a bolha. Retirei-a e fiz o teste, confirmando a bolha como a raiz do problema – inclusive, as marcas do atrito ficaram impressas na carcaça do painel.

A evidência que mostra o que a bolha pode fazer com o painel em atrito com o vento.

Para não me desfazer da peça, experimentei fazer um recorte na mesma, de modo que não encostasse no painel. A ideia até funcionou, mas o corte abalou a estrutura da bolha, que veio a trincar, levando-me a descarta-la e adquirir um segundo modelo, o qual me também me trouxe problemas.

Bolha recortada: uma boa ideia, infelizmente, o material e a aerodinâmica ficaram prejudicados.

BOLHA, NÃO ESCUDO

Como eu não podia ficar sem bolha, até mesmo pela questão da proteção pessoal na estrada, adquiri uma nova, com meio de fixação diferente para não interferir no painel.Era   um modelo muito maior do que o anterior, menos abaulado e mais ereto, mais semelhante a um escudo anti-choque da Polícia do que uma bolha aerodinâmica. 

Novo modelo: dimensões bem maiores (mercadolivre.com.br).

A afixação se dava através de duas hastes que mantinham a placa de acrílico suspensa, fixadas por meio de braçadeiras as quais de início apresentaram o inconveniente de não dar aperto suficiente no cano do guidon, o que tive que resolver com pedaços de borracha.

O ângulo certo

Mas o grande problema se apresentou na estrada. Parece não existir um consenso sobre a inclinação correta das bolhas para uma boa aerodinâmica, tudo o que se encontra por aí é que as mesmas devem ser instaladas seguindo a inclinação das bengalas, e foi o que fiz.

A questão é que minhas bengalas estão num ângulo estimado de 60°, e o tamanho da superfície da bolha somado a essa inclinação acabaram servindo como um freio diante do vento na estrada, especialmente nessa época do ano no centro-oeste do país, onde os ventos facilmente atingem 14km/h.

Primeira tentativa: 60 graus de inclinação.


Experimentei mudar a inclinação para 50° e depois 45°, mas foi um fracasso, especialmente no segundo caso, em que o vento penetrou pelos lados e por baixo da bolha. Ou seja, até então, não obtive nenhum benefício aerodinâmico com meu investimento de R$220,00.

45 graus: ainda sem aerodinâmica.

Foi então que descobri que bolhas grandes e mais retilíneas como essa são mais apropriadas a motos de maior porte. Mas nem isso me fez desistir.

Pus a mão na massa, redesenhei a bolha e a recortei, deixando-a com uma dimensão parecida com a da bolha anterior, salvo nas laterais, que nesse modelo menos abaulado é inexistente. Então parti para a instalação, fazendo-a seguindo o ângulo das bengalas da moto. Na estrada, a sensação de frenagem pelo vento contra a bolha permaneceu, então reajustei para o ângulo mais inclinado de 45°, então finalmente obtive uma melhora na aerodinâmica.

Recorte na bolha - menos área exposta ao vento.


Não satisfeito, resolvi tentar o ângulo de 30°, mas o desempenho piorou. A razão era óbvia: quanto mais inclinada uma bolha, melhor a sua aerodinâmica, mas não é tão simples. Uma inclinação muito aguda, além de fazer com o vento force a moto para baixo, acaba reduzindo a área útil da bolha, deixando o corpo do piloto mais exposto e assim susceptível à força de arrasto.

Nem sempre uma grande inclinação significa uma boa aerodinâmica (leia-se "60°" ao invés de "30°").


Mesmo antes de tentar o ângulo de 30°, eu já havia percebido a ausência de aerodinâmica nas laterais, devido ao já comentado desenho da bolha. Foi então que eu tive a ideia de tentar fazer ‘flaps’ para serem fixados nas concavidades laterais da bolha, as quais estavam permitindo a passagem do vento e a turbulência.

Os "flaps"...

Depois de montados à bolha, supriram a falta de aerodinâmica nas laterais.


Utilizando as sobras do recorte da bolha, facilmente eu consegui produzir e instalar os ‘flaps’, logo, restava saber se funcionaria. Para garantir, deixei o ângulo de inclinação da bolha a 45°, e fui para a estrada.

Finalmente, a melhor angulação e os ‘flaps’ funcionaram bem. Embora sentisse o vento em meus ombros, ele não estava entrando em minha jaqueta, como na inclinação de 30° sem os flaps, gerando turbulência. Além do mais, a moto desenvolveu suas velocidades máximas perfeitamente, segundo o relevo e o vento – não dá para falar em desempenho na rodovia sem levar em conta o terreno e o vento:  eu estava emergindo de uma subida com 20° a 100km/h, e tão logo cheguei à pista plana, já estava desenvolvendo 110km/h e subindo, quando subitamente uma forte rajada de vento sul-noroeste freou o avanço da moto, mantendo-a abaixo dos 110km/h na descida (a aerodinâmica da bolha foi neutralizada pelo ataque diagonal do vento, atingindo-a em ângulo reto).

A posição da moto ou a direção do vento podem simplesmente anular a aerdinâmica da bolha, exercendo a força de arrasto.


Contudo, em condições normais, a bolha se prestou para os fins almejados: proteção e aerodinâmica. Mas os resultados poderiam ser melhores, principalmente em que pese a um item de mercado – se não fossem as adaptações, a bolha teria sido inútil, e meu dinheiro perdido – afinal, os modelos disponíveis no mercado, pelo menos os mais acessíveis, não são totalmente adequados às peculiaridades da Intruder 125.

Para concluir, segue o cálculo de potência atualizado com essa nova variável, já que meu método leva em conta o deslocamento da moto contra o vento (dessa vez, 1.000 metros em 42 segundos):

Potência bruta (em Watts)= 179kg(peso piloto+moto) x 9,81(constante gravitacional) x 1000m(distância)/ 42s (tempo gasto)= 41,80 W > 41,80/746 (p/ conversão em cavalos)= 56,04 cavalos brutos – cvb.
Se a Intruder original desenvolve 11 ‘Cavalos puros’, ou 44,41 ‘Cavalos brutos’, quantos Cavalos puros representam 56,04 cv brutos?
11 – 44,41
X – 56,04= 13,88cv

Convém destacar que o ligeiro acréscimo de potência (13,5 – 13,88) aferido com a nova bolha não significa que a bolha aumenta a potência do motor: ela apenas neutraliza parcialmente uma variável que influencia negativamente a força motriz. No post “Sede de Gasolina” eu demonstro matematicamente a real potência de um motor 125cc. Enfim, parece que meu motor desenvolve uma potência que gravita entre 13,5 – 14,5cv. Mas, como eu sempre faço questão de dizer, somente um Dinâmômetro de Rolo poderia dar um resultado preciso.


Para finalizar, fica a dica: antes de adquirir uma bolha, verifique se ela possui boa aerodinâmica, se ela é ajustável, se é feita com material resistente e não vibrante, o modo de fixação, se ela vai interferir no funcionamento de outro componente da moto... Isso é, se a finalidade buscada é uma boa aerodinâmica para um bom desempenho na estrada.

domingo, 11 de junho de 2017

RODA DA INTRUDER: BOA OU RUIM?

Sem as rodas, uma moto não sairia do lugar. Mesmo o motor mais potente já construído não significaria nada sem a parte mais importante de todo veículo terrestre.

Evolução da bicicleta, as motocicletas herdaram suas rodas com aros crivados de raios finos, o que garantia leveza e resistência, tecnologia que atravessou os séculos. Foi uma invenção feliz, pois funcionava aos fins que prestava, garantindo resistência, manutenção relativamente fácil e boa aerodinâmica. Sim, as rodas também possuem um papel no conjunto aerodinâmico da moto.

Finalmente, chegou-se à era das rodas de liga leve, como o próprio nome diz, tem como propósito maior o peso mínimo associado à possibilidade de belos e variados designs. Teria sido uma alternativa inigualável às centenárias rodas de raio, se não fosse um detalhe: a aerodinâmica nem sempre observada.

Nesse quesito, as rodas de raio são insuperáveis. Então resolvi fazer uma comparação com a roda da Intruder, e fiquei decepcionado com o péssimo negócio que os designers da moto fizeram em não deixar a moto à maneira clássica ou dar-lhe rodas com desenho aerodinâmico melhor.

Com uma régua em mãos, pude perceber e calcular como o desenho das colunas das rodas da Intruder contribuem para a força de arrasto do vento. Para se ter uma ideia, de acordo com os cálculos que fiz a partir das medidas que tirei das colunas, a área de todas elas equivale mais ou menos à superfície de uma folha de papel A4, considerando a roda girando em alta velocidade.

Coluna da roda da Intruder: formato largo e achatado, sem aerodinâmica.


Como o ar flui na roda de liga (Intruder) e numa roda raiada: diferença gritante.


Mas o design dos ‘palitos’ de uma roda realmente pode interferir no desempenho da moto? Sim. Como tudo o que exerce movimento contra o ar, se houver alguma superfície de área considerável perpendicular à direção do vento, inevitavelmente as leis da cinética atuarão sobre esse objeto. Quando se move, a roda corta o ar primeiramente com o pneu em seu formato abaulado, porém o fluxo de ar permanece, e é a vez da roda fazer com que ele passe com o mínimo de resistência até sair por baixo ou pelas laterais da moto.

Ainda, existe o deslocamento de ar vindo de outras direções, que pode exercer força sobre a roda se esta não tiver aerodinâmica e dissipar uma parte da força motriz, diminuindo ligeiramente o desempenho.

Em se tratando de uma moto de baixa cilindrada, convém que a Intruder seja livre de qualquer falha em sua constituição para que possa exercer seu máximo desempenho. Com isso em mente, pesquisei sobre rodas com raios para Intruder, mas elas simplesmente não existem.

A Intruder, salvo a 250cc, já saiu de fábrica com a imortalizada roda com formato de estrela com perfil achatado. O que muitos fazem durante um processo de customização é adaptar a roda da Katana (Suzuki) na frente e a da Intruder 250 atrás (ambas são ‘plug and play’, compatíveis), ou rodas raiadas de outras motos.

Rodas raiadas da Katana e Intruder 250 são opções mais utilizadas em customizações. (Minha Intruder 125)

Como esse caminho me pareceu muito tortuoso (não é fácil encontrar as rodas citadas, que em geral são itens de sucata), busquei por outras rodas de liga mais aerodinâmicas, mas igualmente não tive sucesso.

O que fazer então para melhorar a aerodinâmica ruim das rodas da Intruder? Eu não podia furar, serrar, esmerilhar ou torce-las, mas tive uma ideia. Talvez eu não obtivesse o mesmo sucesso de uma roda de raio, mas valia a pena tentar.

O formato achatado das colunas tinha um detalhe vantajoso: uma saliência de 4mm de altura no meio de cada coluna, certamente para reforçar a peça, fazendo o desenho de um ‘T’ invertido num corte transversal. Então usei essa parte avantajada para forrar a face dianteira da coluna com a famosa fita adesiva Scotch cinza, transformando o ângulo plano da coluna em uma angulosa formação triangular de 30°.

A crista central nas colunas...

...revestida com fita adesiva Scotch...

... funcionou como suporte de um revestimento triangular.

Antes e depois: diferença de 30 graus de inclinação.

Escolhi a fita Scotch por ser barata, resistente e durável, com forte aderência. Fiz o procedimento apenas nas colunas frontais da roda (cada coluna na verdade é constituída por duas, unidas como a ponta de uma estrela), por serem a ‘borda de ataque’ da roda contra o vento. Concluí que seria necessário apenas na roda dianteira, uma vez a roda traseira não tem dimensões suficientes para fazer um ângulo que fizesse diferença.

A aerodinâmica esperada com o procedimento.

Repito, numa moto com o motor da arquitetura da Intruder 125, todo esforço no sentido de reduzir o peso da moto e suas falhas aerodinâmicas é válido para que a moto possa fazer atuar os seus modestos 11 cavalos (no meu caso, 13,5cv [1.000m em 43segundos], segundo os últimos cálculos). Uma moto com cilindrada maior em geral não precisa de tais preocupações, mesmo assim, eventualmente podem ter problemas com aerodinâmica – as leis da física são implacáveis, e costumam sempre frustrar os esforços do ser humano – especialmente motociclistas.

Falemos então dos resultados da experiência. Talvez pelo ângulo insuficiente, talvez por deslocamentos colaterais de ar (que neutralizam o efeito deslizante do ângulo), ou outra variável que não detectei, não foi possível detectar melhoras em relação à roda normal, mesmo porque eu não tinha como aferir isso, mas o conceito por trás dessa tentativa é o que importa: se a Intruder 125 recebesse rodas raiadas ou de liga leve com boa aerodinâmica, certamente haveria uma melhora notável de desempenho.

Uma roda de liga ideal: perfil o mais estreito possível (Yamaha YBR).

Concluindo, considerarei a troca por rodas de raio ou de liga com design melhor (quando disponíveis) no futuro. Por hora, tudo o que posso fazer é esperar, e deixar a dica de uma roda ideal do ponto de vista aerodinâmico.


É possível aliar aparência, resistência e aerodinâmica numa roda de liga. Aqui vale o lema: 'menos é mais'.