Eu
sempre faço questão de enfatizar: por mais que ‘envenenemos’ a Intruder, ela
continuará leve e com um motor de arquitetura limitada (se for o original),
sujeita à perda de desempenho na estrada em função de ventos, relevo da pista, etc.
Digo
isso por experiência própria: pilotando sob um vento forte a ponto de fazer
lavouras e árvores se inclinarem e pequenos tornados de poeira rodopiarem, a
minha Intruder, que desenvolve uma média de 13,5cv, não conseguiu passar dos
100km/h mesmo na descida, e mesmo usando um para-brisa, comumente conhecido
como ‘bolha’ ou ‘bolha aerodinâmica’.
Trata-se
de um item em geral adquirido por estética ou para proteção contra insetos e
outros fragmentos que poderiam se chocar contra o piloto em alta velocidade.
Mas a bolha aerodinâmica, como o próprio nome diz, tem um papel fundamental
também no desempenho da moto ao fazer com que o vento seja desviado para cima e
para os lados da moto, ao invés de ficar retido no corpo do piloto, gerando a
famosa ‘força de arrasto’ que eu gosto de chamar de ‘efeito para-quedas’.
Um bom para-brisas ou bolha tem grande influência no desempenho da moto (Super7Moto).
Eu
já abordei este tema no post “Aerodinâmica Custom”, mas não dei o devido foco à
Intruder. Motos mais potentes, acima de 250cc, podem prescindir de uma bolha,
mas a Intruder, em que pese minha experiência no assunto, deveria vir de
fábrica com o acessório. Na situação que descrevi acima, uma intruder original não
conseguiria desenvolver 70km/h máximos.
Tanto
pior se o piloto está vestindo uma jaqueta ou blusa que permite que o vento se
infiltre inflando a roupa transformando-a literalmente num para-quedas, ficando
sensível nesse caso o efeito de frenagem provocada pelo vento.
Logo,
a bolha se presta a evitar o inconveniente de transformar o corpo do piloto em
freio aerodinâmico.
Existem
várias opções no mercado de várias marcas, mas vou comentar, a título de
exemplo, sobre dois modelos mais comuns e que utilizei.
BOLHA
E VELOCÍMETRO: O QUE TEM A VER?
Além
de fazer o velocímetro avançar mais pela melhoria na aerodinâmica, alguns
modelos de bolha podem simplesmente ‘enlouquecer’ o velocímetro e mesmo o
contagiros, a ponto de se pensar que o painel ou os cabos estão com defeito. E
isso pode acontecer não somente nos marcadores analógicos com ponteiros.
Mas
não se trata de defeito no painel, pelo menos se a moto tem baixa quilometragem
e relativamente pouco tempo de uso. Se estiver sendo utilizado um modelo de
bolha cuja afixação permite que ela fique encostada no painel, simplesmente é a
vibração da bolha provocada pelo atrito contra o ar em alta velocidade que está
interferindo no mecanismo dos ponteiros.
Isso
aconteceu comigo quando adquiri minha primeira bolha, feita de acrílico e
afixada nos parafusos do farol. Por ter espessura fina, ela vibrava muito, o
que resolvi com o uso esticadores presos ao guidon, o que deixou a bolha ainda
mais colada ao painel. A consequência foi que acima de 80km/h, os ponteiros iam
e vinham descontrolados. Fui descartando as causas até chegar à única coisa
possível: a bolha. Retirei-a e fiz o teste, confirmando a bolha como a raiz do
problema – inclusive, as marcas do atrito ficaram impressas na carcaça do
painel.
A evidência que mostra o que a bolha pode fazer com o painel em atrito com o vento.
Para
não me desfazer da peça, experimentei fazer um recorte na mesma, de modo que
não encostasse no painel. A ideia até funcionou, mas o corte abalou a estrutura
da bolha, que veio a trincar, levando-me a descarta-la e adquirir um segundo
modelo, o qual me também me trouxe problemas.
Bolha recortada: uma boa ideia, infelizmente, o material e a aerodinâmica ficaram prejudicados.
BOLHA,
NÃO ESCUDO
Como
eu não podia ficar sem bolha, até mesmo pela questão da proteção pessoal na
estrada, adquiri uma nova, com meio de fixação diferente para não interferir no
painel.Era um modelo muito maior do que o anterior, menos abaulado e mais ereto, mais semelhante
a um escudo anti-choque da Polícia do que uma bolha aerodinâmica.
Novo modelo: dimensões bem maiores (mercadolivre.com.br).
A afixação se
dava através de duas hastes que mantinham a placa de acrílico suspensa, fixadas
por meio de braçadeiras as quais de início apresentaram o inconveniente de não
dar aperto suficiente no cano do guidon, o que tive que resolver com pedaços de
borracha.
O ângulo certo
Mas
o grande problema se apresentou na estrada. Parece não existir um consenso
sobre a inclinação correta das bolhas para uma boa aerodinâmica, tudo o que se
encontra por aí é que as mesmas devem ser instaladas seguindo a inclinação das
bengalas, e foi o que fiz.
A
questão é que minhas bengalas estão num ângulo estimado de 60°, e o tamanho da
superfície da bolha somado a essa inclinação acabaram servindo como um freio
diante do vento na estrada, especialmente nessa época do ano no centro-oeste do
país, onde os ventos facilmente atingem 14km/h.
Primeira tentativa: 60 graus de inclinação.
Experimentei
mudar a inclinação para 50° e depois 45°, mas foi um fracasso, especialmente no
segundo caso, em que o vento penetrou pelos lados e por baixo da bolha. Ou
seja, até então, não obtive nenhum benefício aerodinâmico com meu investimento
de R$220,00.
45 graus: ainda sem aerodinâmica.
Foi
então que descobri que bolhas grandes e mais retilíneas como essa são mais apropriadas
a motos de maior porte. Mas nem isso me fez desistir.
Pus
a mão na massa, redesenhei a bolha e a recortei, deixando-a com uma dimensão
parecida com a da bolha anterior, salvo nas laterais, que nesse modelo menos
abaulado é inexistente. Então parti para a instalação, fazendo-a seguindo o
ângulo das bengalas da moto. Na estrada, a sensação de frenagem pelo vento
contra a bolha permaneceu, então reajustei para o ângulo mais inclinado de 45°,
então finalmente obtive uma melhora na aerodinâmica.
Recorte na bolha - menos área exposta ao vento.
Não
satisfeito, resolvi tentar o ângulo de 30°, mas o desempenho piorou. A razão
era óbvia: quanto mais inclinada uma bolha, melhor a sua aerodinâmica, mas não
é tão simples. Uma inclinação muito aguda, além de fazer com o vento force a
moto para baixo, acaba reduzindo a área útil da bolha, deixando o corpo do
piloto mais exposto e assim susceptível à força de arrasto.
Nem sempre uma grande inclinação significa uma boa aerodinâmica (leia-se "60°" ao invés de "30°").
Mesmo
antes de tentar o ângulo de 30°, eu já havia percebido a ausência de
aerodinâmica nas laterais, devido ao já comentado desenho da bolha. Foi então
que eu tive a ideia de tentar fazer ‘flaps’ para serem fixados nas concavidades
laterais da bolha, as quais estavam permitindo a passagem do vento e a
turbulência.
Os "flaps"...
Depois de montados à bolha, supriram a falta de aerodinâmica nas laterais.
Utilizando
as sobras do recorte da bolha, facilmente eu consegui produzir e instalar os
‘flaps’, logo, restava saber se funcionaria. Para garantir, deixei o ângulo de
inclinação da bolha a 45°, e fui para a estrada.
Finalmente,
a melhor angulação e os ‘flaps’ funcionaram bem. Embora sentisse o vento em
meus ombros, ele não estava entrando em minha jaqueta, como na inclinação de
30° sem os flaps, gerando turbulência. Além do mais, a moto desenvolveu suas
velocidades máximas perfeitamente, segundo o relevo e o vento – não dá para
falar em desempenho na rodovia sem levar em conta o terreno e o vento: eu estava emergindo de uma subida com 20° a
100km/h, e tão logo cheguei à pista plana, já estava desenvolvendo 110km/h e
subindo, quando subitamente uma forte rajada de vento sul-noroeste freou o avanço
da moto, mantendo-a abaixo dos 110km/h na descida (a aerodinâmica da bolha foi
neutralizada pelo ataque diagonal do vento, atingindo-a em ângulo reto).
A posição da moto ou a direção do vento podem simplesmente anular a aerdinâmica da bolha, exercendo a força de arrasto.
Contudo,
em condições normais, a bolha se prestou para os fins almejados: proteção e
aerodinâmica. Mas os resultados poderiam ser melhores, principalmente em que
pese a um item de mercado – se não fossem as adaptações, a bolha teria sido
inútil, e meu dinheiro perdido – afinal, os modelos disponíveis no mercado,
pelo menos os mais acessíveis, não são totalmente adequados às peculiaridades
da Intruder 125.
Para
concluir, segue o cálculo de potência atualizado com essa nova variável, já que
meu método leva em conta o deslocamento da moto contra o vento (dessa vez,
1.000 metros em 42 segundos):
Potência
bruta (em Watts)= 179kg(peso
piloto+moto) x 9,81(constante gravitacional) x 1000m(distância)/ 42s (tempo
gasto)= 41,80 W > 41,80/746 (p/ conversão em cavalos)= 56,04 cavalos brutos – cvb.
Se
a Intruder original desenvolve 11 ‘Cavalos puros’, ou 44,41 ‘Cavalos brutos’,
quantos Cavalos puros representam 56,04 cv brutos?
11
– 44,41
X
– 56,04= 13,88cv
Convém
destacar que o ligeiro acréscimo de potência (13,5 – 13,88) aferido com a nova
bolha não significa que a bolha aumenta a potência do motor: ela apenas
neutraliza parcialmente uma variável que influencia negativamente a força
motriz. No post “Sede de Gasolina” eu demonstro matematicamente a real potência
de um motor 125cc. Enfim, parece que meu motor desenvolve uma potência que
gravita entre 13,5 – 14,5cv. Mas, como eu sempre faço questão de dizer, somente
um Dinâmômetro de Rolo poderia dar um resultado preciso.
Para
finalizar, fica a dica: antes de adquirir uma bolha, verifique se ela possui
boa aerodinâmica, se ela é ajustável, se é feita com material resistente e não
vibrante, o modo de fixação, se ela vai interferir no funcionamento de outro
componente da moto... Isso é, se a finalidade buscada é uma boa aerodinâmica
para um bom desempenho na estrada.