quinta-feira, 17 de novembro de 2016

AERODINÂMICA CUSTOM

Eu tenho observado desde sempre que motos custom não usam com tanta frequência o acessório pára-brisas, ou ‘bolha’ aerodinâmica.

Muitos encaram o item como um mero acessório para incrementar a estética da moto, outros o utilizam pela proteção contra insetos ou qualquer outro detrito que possa atingir perigosamente o piloto. Mas a verdade é que a bolha possui um papel fundamental no desempenho.

Custom com parabrisas, ou 'bolha' (Chiptronic)

A verdade é que as motos custom em geral são de alta cilindrada e mais pesadas, não sofrendo tanto a interferência do vento, recorrendo, portanto à bolha mais por razões estéticas e de proteção.

Moto sport: é visível sua eficiência aerodinâmica.

No dia e na hora em que fiz o primeiro teste com a arruela de 0,3, a qual venho utilizando para sobre-elevar a agulha, havia um vento de cerca de 20 km/h contra o meu trajeto segunda a consulta que fiz no site Climatempo, consequentemente, a moto mal passou dos 90km/h, mesmo na descida. Isso não seria um problema gritante para uma moto 250cc em diante, mas no caso de uma 125, por mais que tenha ampliado seus limites por manipulações na química de sua combustão, não há suporte mecânico no motor necessário para vencer o efeito de arrasto do vento sobre o corpo de quem está pilotando, o que outrora chamei de ‘efeito para-quedas’.

Visão superior da aerodinâmica de uma custom (acima) e de uma moto sport. Observem a resistência na dianteira da custom.

Mas o efeito de arrasto, seu nome correto em Física, simplesmente é uma resistência que um fluído de ar ou água encontra em seu fluxo. O efeito de arrasto pode ser tão poderoso que os aviões mais potentes recolhem seu trem de pouso (rodas) durante o voo para que os mesmos não sejam arrancados pelo efeito de arrasto.

Voltando à tradição custom, não existe uma preocupação com a aerodinâmica, como nas motos esportivas, cujo design são claramente feitos para ‘cortar o ar’. Mas eu percebi, pelo impacto que sentia em meu corpo em altas velocidades e pela influência que o vento, que este estava anulando todos os meus esforços para melhorar o desempenho da minha moto.

Foi então que adquiri uma bolha própria para Intruder. Sua instalação foi fácil, afixada nos parafusos que sustentam a campânula do farol dianteiro, acompanhando a inclinação da bengala, no caso, de 60°. Outras motos utilizam ângulos ainda menores, mas tudo depende da posição do piloto, já que a função da bolha é exatamente fazer com que o ar passe sobre ele ao invés de se chocar com ele.

Efeito aerodinâmico da bolha (Super7moto).

Matematicamente falando, só poderia dar certo: agora o vento, ao invés de se chocar com uma superfície de 250m2 em 90°, vai ser deslizar em uma superfície de 120m2 abaulada e inclinada 60° a seu favor.

Bolha instalada na minha Intruder.

Mas o que vale é a prática. Somente a estrada comprovaria as teorias. Realmente, eu não mais sentia o vento se chocar com violência no meu peito, e pude manter as velocidades máximas de costume de acordo com o relevo da pista independentemente do vento contrário de 8 km (Site Climatempo, conferido com uma biruta portátil) sentido oeste (eu estava indo para leste).

Mas o impacto do vento que eu sentia no corpo foi sentido no capacete, pois minha viseira balançou violentamente, o que não é ruim, pelo contrário: o vento realmente foi desviado para uma área com dimensões e aerodinâmica mais favoráveis (o capacete).

Perfil da moto com a bolha: acompanhando o ângulo da bengala, 60° são suficientes para anular a força de arrasto do vento.

Mas nem tudo é só alegria. A bolha possui seus efeitos colaterais, já que poderá tornar a moto instável com a passagem de ventos vindos de direções diferentes ou mesmo com o deslocamento de ar provocado por outros veículos, embora tudo isso vá ocorrer numa proporção que ainda faz a bolha ser viável, dependendo ainda do tamanho da peça.

Outro efeito adverso é quando a bolha é mal ajustada e o vento acaba se concentrando totalmente na cabeça do piloto, forçando-a para trás trazendo desconforto ao pescoço. Não é mesma coisa quando o vento atinge parcialmente o capacete e segue fluindo aproveitando sua aerodinâmica, como é o comum nas motos custom. Ainda, uma bolha mal colocada, em geral nos ângulos mais inclinados, vai fazer a passagem do vento forçar a moto para baixo, deixando-a mais pesada, afetando consequentemente seu desempenho.

De resto, em termos de aerodinâmica, não há muito a fazer nas customs, que não são conhecidas por carenagens e designs para velocidades superlativas. As motos por si só não são um problema, por serem estreitas e oferecerem pouca resistência ao vento, o problema aparece quando o piloto senta na moto, criando uma superfície aberta que se opõe o vento.

A solução, então, é alterar a posição do piloto (como nas motos esportivas, desenhadas para que sejam pilotadas com o corpo colado ao tanque) ou criar artifícios como as bolhas para cortar ou desviar o ar em movimento, de modo que o desempenho não seja prejudicado, especialmente as de baixa cilindrada.

Do meu ponto de vista, todas as motos até 200cc deveriam sair de fábrica com uma bolha, já que ele nem chega a ser um simples acessório, e sim uma peça que se soma a outros dispositivos para garantir não apenas o desempenho da moto, com também sua segurança, criando uma espécie de escudo que em geral os motociclistas não possuem contra as fatalidades das estradas e mesmo das pistas da cidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário