Eu tenho observado desde
sempre que motos custom não usam com tanta frequência o acessório pára-brisas,
ou ‘bolha’ aerodinâmica.
Muitos encaram o item como um
mero acessório para incrementar a estética da moto, outros o utilizam pela
proteção contra insetos ou qualquer outro detrito que possa atingir
perigosamente o piloto. Mas a verdade é que a bolha possui um papel fundamental
no desempenho.
Custom com parabrisas, ou 'bolha' (Chiptronic)
A verdade é que as motos
custom em geral são de alta cilindrada e mais pesadas, não sofrendo tanto a
interferência do vento, recorrendo, portanto à bolha mais por razões estéticas
e de proteção.
Moto sport: é visível sua eficiência aerodinâmica.
No dia e na hora em que fiz o
primeiro teste com a arruela de 0,3, a qual venho utilizando para sobre-elevar
a agulha, havia um vento de cerca de 20 km/h contra o meu trajeto segunda a
consulta que fiz no site Climatempo, consequentemente, a moto mal passou dos
90km/h, mesmo na descida. Isso não seria um problema gritante para uma moto
250cc em diante, mas no caso de uma 125, por mais que tenha ampliado seus
limites por manipulações na química de sua combustão, não há suporte mecânico
no motor necessário para vencer o efeito de arrasto do vento sobre o corpo de quem
está pilotando, o que outrora chamei de ‘efeito para-quedas’.
Visão superior da aerodinâmica de uma custom (acima) e de uma moto sport. Observem a resistência na dianteira da custom.
Mas o efeito de arrasto, seu
nome correto em Física, simplesmente é uma resistência que um fluído de ar ou
água encontra em seu fluxo. O efeito de arrasto pode ser tão poderoso que os
aviões mais potentes recolhem seu trem de pouso (rodas) durante o voo para que
os mesmos não sejam arrancados pelo efeito de arrasto.
Voltando à tradição custom,
não existe uma preocupação com a aerodinâmica, como nas motos esportivas, cujo
design são claramente feitos para ‘cortar o ar’. Mas eu percebi, pelo impacto
que sentia em meu corpo em altas velocidades e pela influência que o vento, que
este estava anulando todos os meus esforços para melhorar o desempenho da minha
moto.
Foi então que adquiri uma
bolha própria para Intruder. Sua instalação foi fácil, afixada nos parafusos
que sustentam a campânula do farol dianteiro, acompanhando a inclinação da
bengala, no caso, de 60°. Outras motos utilizam ângulos ainda menores, mas tudo
depende da posição do piloto, já que a função da bolha é exatamente fazer com
que o ar passe sobre ele ao invés de se chocar com ele.
Efeito aerodinâmico da bolha (Super7moto).
Matematicamente falando, só
poderia dar certo: agora o vento, ao invés de se chocar com uma superfície de
250m2 em 90°, vai ser deslizar em uma superfície de 120m2 abaulada e inclinada
60° a seu favor.
Bolha instalada na minha Intruder.
Mas o que vale é a prática.
Somente a estrada comprovaria as teorias. Realmente, eu não mais sentia o vento
se chocar com violência no meu peito, e pude manter as velocidades máximas de
costume de acordo com o relevo da pista independentemente do vento contrário de
8 km (Site Climatempo, conferido com uma biruta portátil) sentido oeste (eu
estava indo para leste).
Mas o impacto do vento que eu
sentia no corpo foi sentido no capacete, pois minha viseira balançou violentamente,
o que não é ruim, pelo contrário: o vento realmente foi desviado para uma área
com dimensões e aerodinâmica mais favoráveis (o capacete).
Perfil da moto com a bolha: acompanhando o ângulo da bengala, 60° são suficientes para anular a força de arrasto do vento.
Mas nem tudo é só alegria. A
bolha possui seus efeitos colaterais, já que poderá tornar a moto instável com
a passagem de ventos vindos de direções diferentes ou mesmo com o deslocamento
de ar provocado por outros veículos, embora tudo isso vá ocorrer numa proporção
que ainda faz a bolha ser viável, dependendo ainda do tamanho da peça.
Outro efeito adverso é quando a
bolha é mal ajustada e o vento acaba se concentrando totalmente na cabeça do
piloto, forçando-a para trás trazendo desconforto ao pescoço. Não é mesma coisa
quando o vento atinge parcialmente o capacete e segue fluindo aproveitando sua
aerodinâmica, como é o comum nas motos custom. Ainda, uma bolha mal colocada,
em geral nos ângulos mais inclinados, vai fazer a passagem do vento forçar a
moto para baixo, deixando-a mais pesada, afetando consequentemente seu desempenho.
De resto, em termos de
aerodinâmica, não há muito a fazer nas customs, que não são conhecidas por
carenagens e designs para velocidades superlativas. As motos por si só não são
um problema, por serem estreitas e oferecerem pouca resistência ao vento, o
problema aparece quando o piloto senta na moto, criando uma superfície aberta que
se opõe o vento.
A solução, então, é alterar a
posição do piloto (como nas motos esportivas, desenhadas para que sejam
pilotadas com o corpo colado ao tanque) ou criar artifícios como as bolhas para
cortar ou desviar o ar em movimento, de modo que o desempenho não seja
prejudicado, especialmente as de baixa cilindrada.
Do meu ponto de vista, todas
as motos até 200cc deveriam sair de fábrica com uma bolha, já que ele nem chega
a ser um simples acessório, e sim uma peça que se soma a outros dispositivos
para garantir não apenas o desempenho da moto, com também sua segurança, criando
uma espécie de escudo que em geral os motociclistas não possuem contra as
fatalidades das estradas e mesmo das pistas da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário