segunda-feira, 14 de novembro de 2016

ALIMENTAÇÃO TURBO

Eu precisava compensar o fluxo extra de gasolina do carburador rumo ao motor já que a ligação tanque de combustível - carburador não foram projetados para o aumento de fluxo com o 'turbo' que instalei. 

Eu já havia tentado compensar isso abaixando a boia, elevando o nível da gasolina na cuba 2mm, mas ainda assim encontrei problemas de secagem nas rotações máximas.

Após muito observar e pensar a respeito, decidi fazer mais uma alteração na moto que não fosse tão invasiva, mas que ao mesmo tempo proporcionasse a solução do inconveniente de alimentação de combustível, fazendo algumas modificações na torneira de combustível.

Torneira de combustível da Intruder 125

A minha ideia basicamente era aumentar o calibre de saída de combustível, para então usar uma mangueira também de calibre maior para fazer acontecer um Efeito Venturi no combustível quando encontrasse a entrada de calibre menor do carburador.

O Efeito Venturi, em jus ao nome do físico Giovanni Battista Venturi quem o teorizou, é também encontrado dentro do carburador, e nada mais é do que uma aplicação dos Princípios físicos de Bernoulli e da Continuidade, os quais basicamente mostram que quando há a diminuição de área em uma ou várias seções de um tubo, um fluxo constante sob ação da gravidade se comprime e sofre um aumento de velocidade na seção menor após atravessá-la, de modo que seu volume possa ser o mesmo no mesmo espaço de tempo.

O Efeito Venturi no Carburador: mais velocidade da mistura rumo ao motor (Curso Mecânica Motos).

A mesma coisa acontece com os bocais ajustáveis das mangueiras de jardim (www.fisicaevestibular.com.br).

Ou seja, para compensar o volume na área menor (B), é necessário que haja um deslocamento mais rápido para que o volume seja o mesmo da área maior (A).

Em posse da teoria, faltava a prática. Esgotei o tanque, tirei a torneira do tanque e a desmontei, para ver como eu poderia aplicar esses conceitos físicos para resolver o problema de alimentação de combustível.

Torneira de combustível: Detalhe para os tubos de 6mm da posição 'reserva' (menor) e 'on' (maior). Adiante, a única das peças que serão aproveitadas é o aro preto de borracha (à esquerda).

Logo percebi que a conexão do tanque com a torneira se dava através de dois tubos paralelos de 6mm de diâmetro (interior), que descem para uma câmera onde são regulados pela válvula ‘on – reserva – off’ e seguem para um tubo de 4mm de diâmetro que é o engate com a mangueira de mesmo calibre, tal como o engate do carburador.

Engate da torneira: diâmetro interior de 4mm, assim como a mangueira que segue para o carburador.

Após estudar as peças e o funcionamento da torneira, decidi fazer o seguinte:

Resolvi preservar os tubos do tanque, mesmo porque eles são dotados de filtros para que impurezas não sigam para o motor, e também porque seu diâmetro de 6mm era um bom ponto de partida.

Filtros no topo de cada tubo de alimentação (dentro do tanque).

Então peguei uma furadeira com uma broca 5mm e expandi o diâmetro interno do engate da torneira também para 6mm.

Alargamento do diâmetro do engate para 6mm.

Daí remontei a torneira, mas com outras peças, apenas o seu aro de vedação normal, uma borracha de vedação de filtro de barro seguida por uma tampa de metal de fundo plano, peças essas escolhidas por se encaixar perfeitamente na torneira, sem deixar vazamentos e dando espaço o suficiente para que os dois tubos escoem ao mesmo tempo em direção à câmara vazia que ficou onde outrora estava a válvula reguladora, a qual permitia o fluxo de apenas um dos tubos reserva/ on.

Novas peças, montadas na sequência: aro de borracha  preta, aro de borracha transparente, chapa de metal. O aro transparente foi um feliz achado: o seu buraco central na torneira fará um efeito 'loop', ampliando a velocidade do fluxo segundo as leis de Cinética.

Nova mangueira: sem a válvula de mudança, ficou 'oca', permitindo a passagem de combustível dos dois tubos de 6mm ao mesmo tempo.

Assim, o fluxo de gasolina aconteceria segundo as seguintes variações de diâmetro:

12m > 6mm > 5mm > 4mm

Voltando à Física, tudo poderia ser equacionado mais ou menos assim:

Equação do Princípio da Continuidade, comparável ao Princípio de Bernoulli e base do Efeito Venturi.

Isso faria com que, em tese, a gasolina sofresse sucessivas compressões multiplicando sua velocidade até a chegada na cuba.

Se eu não poderia aumentar a alimentação com o uso direto de uma mangueira de calibre maior do tanque à cuba, restava-me este conceito físico que não aumentaria a quantidade de gasolina, mas sim a velocidade de sua chegada na cuba, reduzindo o tempo de sua reposição e anulando de qualquer forma o problema de seu esvaziamento crítico.

A torneira modificada montada, com uma mangueira de 5mm de diâmetro (a original é de 4mm).

Finalmente, restava rodar. Percorri 22 kilômetros em velocidade máxima, e salvo pela ação da força de arrasto do vento, não tive problemas de desempenho, pelo contrário, eu tive inclusive um pequeno acréscimo, de 103 km/h a 9.500rpm em subida de 20° (antes 100) e 112 km/h a 10.000rpm no plano (antes 110), em quinta marcha. 

Sempre atento, não detectei nenhum problema como vazamento no carburador, 'engasgamento' da moto, etc.


Infelizmente, não tenho meios para aferir a vazão da gasolina na saída da bóia na cuba, mas é evidente que as modificações produziram resultados significativos, uma vez que no carburador cada milímetro faz a diferença.

E fica a ilustração do melhor dos princípios: a solução de todo problema pode ser difícil de ser encontrada, mas é invariavelmente simples. Mais uma vez, tudo o que fiz foi tirar o excesso simplificando um sistema.

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