Eu
precisava compensar o fluxo extra de gasolina do carburador
rumo ao motor já que a ligação tanque de combustível - carburador não foram projetados para o aumento de fluxo com o 'turbo' que instalei.
Eu já havia tentado compensar isso abaixando a boia, elevando o nível da gasolina
na cuba 2mm, mas ainda assim encontrei problemas de secagem nas rotações
máximas.
Após
muito observar e pensar a respeito, decidi fazer mais uma alteração na moto que
não fosse tão invasiva, mas que ao mesmo tempo proporcionasse a solução do
inconveniente de alimentação de combustível, fazendo algumas modificações na
torneira de combustível.
Torneira de combustível da Intruder 125
A
minha ideia basicamente era aumentar o calibre de saída de combustível, para
então usar uma mangueira também de calibre maior para fazer acontecer um
Efeito Venturi no combustível quando encontrasse a entrada de calibre menor do
carburador.
O
Efeito Venturi, em jus ao nome do físico Giovanni Battista Venturi quem o
teorizou, é também encontrado dentro do carburador, e nada mais é do que uma
aplicação dos Princípios físicos de Bernoulli e da Continuidade, os quais
basicamente mostram que quando há a diminuição de área em uma ou várias seções
de um tubo, um fluxo constante sob ação da gravidade se comprime e sofre um
aumento de velocidade na seção menor após atravessá-la, de modo que seu volume
possa ser o mesmo no mesmo espaço de tempo.
O Efeito Venturi no Carburador: mais velocidade da mistura rumo ao motor (Curso Mecânica Motos).
A mesma coisa acontece com os bocais ajustáveis das mangueiras de jardim (www.fisicaevestibular.com.br).
Ou
seja, para compensar o volume na área menor (B), é necessário que haja um
deslocamento mais rápido para que o volume seja o mesmo da área maior (A).
Em
posse da teoria, faltava a prática. Esgotei o tanque, tirei a torneira do
tanque e a desmontei, para ver como eu poderia aplicar esses conceitos físicos
para resolver o problema de alimentação de combustível.
Torneira de combustível: Detalhe para os tubos de 6mm da posição 'reserva' (menor) e 'on' (maior). Adiante, a única das peças que serão aproveitadas é o aro preto de borracha (à esquerda).
Logo
percebi que a conexão do tanque com a torneira se dava através de dois tubos
paralelos de 6mm de diâmetro (interior), que descem para uma câmera onde são
regulados pela válvula ‘on – reserva – off’ e seguem para um tubo de 4mm de
diâmetro que é o engate com a mangueira de mesmo calibre, tal como o engate do
carburador.
Engate da torneira: diâmetro interior de 4mm, assim como a mangueira que segue para o carburador.
Após
estudar as peças e o funcionamento da torneira, decidi fazer o seguinte:
Resolvi
preservar os tubos do tanque, mesmo porque eles são dotados de filtros para que
impurezas não sigam para o motor, e também porque seu diâmetro de 6mm era um
bom ponto de partida.
Filtros no topo de cada tubo de alimentação (dentro do tanque).
Então
peguei uma furadeira com uma broca 5mm e expandi o diâmetro interno do engate
da torneira também para 6mm.
Alargamento do diâmetro do engate para 6mm.
Daí
remontei a torneira, mas com outras peças, apenas o seu aro de vedação normal, uma borracha de vedação de filtro de barro seguida por uma tampa de metal de
fundo plano, peças essas escolhidas por se encaixar perfeitamente na torneira,
sem deixar vazamentos e dando espaço o suficiente para que os dois tubos escoem
ao mesmo tempo em direção à câmara vazia que ficou onde outrora estava a
válvula reguladora, a qual permitia o fluxo de apenas um dos tubos reserva/ on.
Novas peças, montadas na sequência: aro de borracha preta, aro de borracha transparente, chapa de metal. O aro transparente foi um feliz achado: o seu buraco central na torneira fará um efeito 'loop', ampliando a velocidade do fluxo segundo as leis de Cinética.
Nova mangueira: sem a válvula de mudança, ficou 'oca', permitindo a passagem de combustível dos dois tubos de 6mm ao mesmo tempo.
Assim,
o fluxo de gasolina aconteceria segundo as seguintes variações de diâmetro:
12m
> 6mm > 5mm > 4mm
Voltando
à Física, tudo poderia ser equacionado mais ou menos assim:
Equação do Princípio da Continuidade, comparável ao Princípio de Bernoulli e base do Efeito Venturi.
Isso
faria com que, em tese, a gasolina sofresse sucessivas compressões multiplicando
sua velocidade até a chegada na cuba.
Se
eu não poderia aumentar a alimentação com o uso direto de uma mangueira de
calibre maior do tanque à cuba, restava-me este conceito físico que não
aumentaria a quantidade de gasolina, mas sim a velocidade de sua chegada na
cuba, reduzindo o tempo de sua reposição e anulando de qualquer forma o problema de seu
esvaziamento crítico.
A torneira modificada montada, com uma mangueira de 5mm de diâmetro (a original é de 4mm).
Finalmente,
restava rodar. Percorri 22 kilômetros em velocidade máxima, e salvo pela ação
da força de arrasto do vento, não tive problemas de desempenho, pelo contrário,
eu tive inclusive um pequeno acréscimo, de 103 km/h a 9.500rpm em subida de 20° (antes
100) e 112 km/h a 10.000rpm no plano (antes 110), em quinta marcha.
Sempre atento, não detectei nenhum problema como vazamento no carburador, 'engasgamento' da moto, etc.
Infelizmente,
não tenho meios para aferir a vazão da gasolina na saída da bóia na cuba, mas é evidente
que as modificações produziram resultados significativos, uma vez que no
carburador cada milímetro faz a diferença.
E fica a ilustração do melhor dos princípios: a solução de todo problema pode ser difícil de ser encontrada, mas é invariavelmente simples. Mais uma vez, tudo o que fiz foi tirar o excesso simplificando um sistema.
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