Comentar a respeito da vela
com eletrodo de Irídio, ou popularmente vela ‘Iridium’, nome comercial da
fabricante NGK, no que diz respeito à minha moto com suas alterações na
alimentação tanto de ar quanto de gasolina, é esperar por um resultado incomum (ver Aperfeiçoando Sistema Turbo)
De fato, quando instalei a
vela e parti para a estrada, tive a impressão de uma queima mais linear,
eliminando os ‘soluços’ que a moto vinha dando quando mexi no carburador para
aumentar a injeção de gasolina (gicleur e boia), e velocidades finais mais
constantes, embora não houve nenhum acréscimo de potência evidente. A
facilidade na partida é outro fato confirmado, mesmo em temperaturas mais
baixas.
Após duas voltas no circuito
de testes na estrada e algumas voltas na cidade, tirei e vela e descobri porque
a vela Iridium não apresentou resultados melhores de desempenho: a marca de
combustão ao seu redor estava completamente esbranquiçada, sinal de uma mistura
pobre.
Vela Iridium: mistura pobre.
Mostrando realmente a que
veio, a eficiência de queima da vela veio mostrar algo que eu já desconfiava: a mistura não estava ideal,
embora a vela anterior mostrasse o contrário.
Vela comum, mistura aparentemente balanceada, o que foi desmentido pela vela de Irídio.
Comparando com a vela da moto
em sua configuração original, percebe-se o quanto a mistura em ambos os casos está
aquém do ideal.
Vela do motor em suas configurações originais (de fábrica): mistura ideal
Então eu fiz algo que já havia
pensado: utilizar novamente o filtro de ar original. O sistema turbo que
concebi, com o filtro de baixa densidade, definitivamente estava levando mais
ar do que o carburador é capaz de injetar gasolina, mesmo com o rebaixamento da
boia e troca do gicleur de alta.
Numa vela de queima normal, a
qualidade da mistura provavelmente estava mascarada por uma combustão
incompleta, mas a vela Iridium foi a prova definitiva de que o problema estava
no excesso de ar no motor.
De fato, quando eu havia introduzido
o filtro de baixa densidade, houve uma melhora no desempenho, mas a diferença
de fato se deu somente quando eu levantei a agulha com uma arruela (ver post
Pistonete Turbinado), levando a moto a atingir os 120km/h.
Mesmo com o filtro original, o
turbo continua – o coletor com seu desenho aerodinâmico permanece, e vai levar
a mesma quantidade de ar para a moto, mas encontrará mais resistência para
seguir até o carburador, onde chegará em menor quantidade ensejando assim uma
mistura mais equilibrada – por mais que sistema turbo tenha sido eficiente, a
moto não anda somente com ar.
Com a mistura ideal, aí sim o
papel principal passa para a vela. O poder de queima da vela de Irídio ficou
demonstrado, restava saber se esse poder vai converter uma boa mistura em desempenho.
Filtro trocado, peguei a
estrada. Os resultados foram encorajadores (5ª marcha):
Subida
30° - 100km – 8.500rpm
Subida
20° - 105km – 9.000rpm
Plano
– 110km/h – 9.500rpm
Descida
– 115km/h – 10.000rpm
O cálculo de potência bruta
também revelou um ganho:
Pb=
179kg x 9,81(constante de aceleração) x 1.000m/45s
Pb=
39.022W/746= 52,30 Cavalos Brutos, contra 44,41cvb da moto em sua
configuração de fábrica.
Uma coisa eu tenho observado
durante meus testes: a interferência do vento. Entrei na pista sentido oeste – leste, e dava
para perceber que havia um forte vento no sentido contrário. Com efeito, a moto
não passou dos 85km/h na subida, e mesmo na descida mal passou dos 100km/h.
somente quando dei a volta e segui no sentido do vento é que a moto apresentou
os resultados exibidos acima.
Esse efeito ‘pára-quedas’ é
inevitável, por razões óbvias – nosso corpo oferece resistência ao vento. É o
mesmo que tentar correr a pé contra um vento qualquer: sentimos uma maior dificuldade
para avançar. Num motor de baixa cilindrada na estrada, onde o vento corre
livre, acaba havendo um acréscimo de resistência ao esforço mecânico, o que significa redução do desempenho.
Seja como for, ainda deu
para seguir de perto uma Honda Bros 160, que obviamente, não estava no limite
como eu.
Mas a questão não estava
encerrada. Terminado o teste, chequei a vela, e para minha surpresa, ela continuava
esbranquiçada.
Vela de Irídio: queima ainda ruim.
Até onde tenho visto, as velas
de Irídio não costumam apresentar sinais de fuligem muito acentuados, uma vez que possuem
um alto poder de ignição, e isso é uma característica confirmada do que é dito
por aí, mas no meu caso o problema realmente é a mistura pobre.
Refletindo um pouco, voltei
minha atenção para o carburador, que estava apenas com o gicleur 100 (o
original é 97,5) e a boia 1mm abaixada. Antes dessas alterações, o modo que
encontrei de aumentar a injeção de combustível no circuito de alta foi fazendo
um levantamento extra da agulha com uma pequena arruela de 1mm de altura antes
da trava da agulha.
Isso funcionou, mas tinha
vários inconvenientes, como ‘engasgar’ a moto e baixar demais o nível da cuba.
Com as alterações no carburador, tirei a arruela. Como o melhor desempenho que
obtive foi a combinação do turbo com o uso da arruela (1.000m em 44 segundos),
decidi tentar de novo, mas começando por baixo: levantei a agulha 0,2mm com uma arruela de mesma altura.
Arruela de 0,2mm: levantamento extra da agulha.
Dentro do carburador, qualquer fração de milímetro tem uma forte repercussão na mistura, que deve estar sutilmente equilibrada. Feito isso, então era rodar de novo para
ver. Recuperei parte do desempenho perdido, no entanto, a vela começou a mostrar
traços de fuligem, mas muito aquém do ideal.
Melhora da mistura e desempenho.
Restou-me um recurso final:
levantar ainda mais a agulha, através de uma arruela mais alta.
Forjei então uma arruela de 0,3mm para elevar discretamente um pouco mais a agulha.
Arruelas: 1mm, 0,2mm, 0,3mm, respectivamente.
Fui para a estrada, e
finalmente recuperei as marcas do primeiro teste (ver acima). Percorri 1.000 m
em 45, com a seguinte observação: metade do trajeto tinha 10° de aclive, e o resto plano.
Segue um cálculo de
Potência Pura, ou seja, aquela que vem no manual da moto. Originalmente, a Intruder 125
2014 possui 11cv, fazendo 44,41cv brutos através do cálculo feito acima de
Potência Bruta.
Assim, se a mesma moto
atualmente está fazendo 52,30 Cavalos brutos, com uma regra de três simples
pode-se saber, ainda que grosseiramente, quantos cavalos puros a moto virtualmente possui
agora:
11
– 44,41cvb
X
- 52,30= 12,95 Cavalos Puros
Eu tenho dito desde o início
deste Blog que o meu objetivo era dar à minha Intruder os 12,5 cavalos que a
moto já teve antes de 2007. Parece que eu consegui, resta saber se é
permanente, e mensurar também o consumo e observar prováveis efeitos colaterais
– como eu praticamente introduzi uma carburação de 150cc na moto, isso terá um
custo, geralmente cobrado do motor.
E finalmente, o estado da vela
nas atuais configurações:
Para uma vela Iridium, uma mistura não tão ruim.
Pode ainda não ser o ideal,
mas é cedo para ensaiar outras mudanças. Vou rodar mais um pouco, para saber se o acréscimo de desempenho é permanente, e então checar novamente se a mistura, o desempenho e a
potência pura estão de acordo.
E vale lembrar: minha moto ainda está na casa dos 8.000km, é provável que o motor ainda está se moldando ao regime de trabalho que lhe submeto - inclusive as mudanças na admissão de ar e na carburação.
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