Sem as rodas, uma moto não
sairia do lugar. Mesmo o motor mais potente já construído não significaria nada
sem a parte mais importante de todo veículo terrestre.
Evolução da bicicleta, as
motocicletas herdaram suas rodas com aros crivados de raios finos, o que
garantia leveza e resistência, tecnologia que atravessou os séculos. Foi uma
invenção feliz, pois funcionava aos fins que prestava, garantindo resistência,
manutenção relativamente fácil e boa aerodinâmica. Sim, as rodas também possuem
um papel no conjunto aerodinâmico da moto.
Finalmente, chegou-se à era
das rodas de liga leve, como o próprio nome diz, tem como propósito maior o
peso mínimo associado à possibilidade de belos e variados designs. Teria sido
uma alternativa inigualável às centenárias rodas de raio, se não fosse um
detalhe: a aerodinâmica nem sempre observada.
Nesse quesito, as rodas de
raio são insuperáveis. Então resolvi fazer uma comparação com a roda da
Intruder, e fiquei decepcionado com o péssimo negócio que os designers da moto
fizeram em não deixar a moto à maneira clássica ou dar-lhe rodas com desenho
aerodinâmico melhor.
Com uma régua em mãos, pude
perceber e calcular como o desenho das colunas das rodas da Intruder contribuem
para a força de arrasto do vento. Para se ter uma ideia, de acordo com os
cálculos que fiz a partir das medidas que tirei das colunas, a área de todas
elas equivale mais ou menos à superfície de uma folha de papel A4, considerando
a roda girando em alta velocidade.
Coluna da roda da Intruder: formato largo e achatado, sem aerodinâmica.
Como o ar flui na roda de liga (Intruder) e numa roda raiada: diferença gritante.
Mas o design dos ‘palitos’
de uma roda realmente pode interferir no desempenho da moto? Sim. Como tudo o
que exerce movimento contra o ar, se houver alguma superfície de área
considerável perpendicular à direção do vento, inevitavelmente as leis da
cinética atuarão sobre esse objeto. Quando se move, a roda corta o ar primeiramente
com o pneu em seu formato abaulado, porém o fluxo de ar permanece, e é a vez da
roda fazer com que ele passe com o mínimo de resistência até sair por baixo ou
pelas laterais da moto.
Ainda, existe o deslocamento
de ar vindo de outras direções, que pode exercer força sobre a roda se esta não
tiver aerodinâmica e dissipar uma parte da força motriz, diminuindo ligeiramente
o desempenho.
Em se tratando de uma moto
de baixa cilindrada, convém que a Intruder seja livre de qualquer falha em sua
constituição para que possa exercer seu máximo desempenho. Com isso em mente,
pesquisei sobre rodas com raios para Intruder, mas elas simplesmente não
existem.
A Intruder, salvo a 250cc,
já saiu de fábrica com a imortalizada roda com formato de estrela com perfil
achatado. O que muitos fazem durante um processo de customização é adaptar a
roda da Katana (Suzuki) na frente e a da Intruder 250 atrás (ambas são ‘plug
and play’, compatíveis), ou rodas raiadas de outras motos.
Rodas raiadas da Katana e Intruder 250 são opções mais utilizadas em customizações. (Minha Intruder 125)
Como esse caminho me pareceu
muito tortuoso (não é fácil encontrar as rodas citadas, que em geral são itens
de sucata), busquei por outras rodas de liga mais aerodinâmicas, mas igualmente
não tive sucesso.
O que fazer então para
melhorar a aerodinâmica ruim das rodas da Intruder? Eu não podia furar, serrar,
esmerilhar ou torce-las, mas tive uma ideia. Talvez eu não obtivesse o mesmo
sucesso de uma roda de raio, mas valia a pena tentar.
O formato achatado das
colunas tinha um detalhe vantajoso: uma saliência de 4mm de altura no meio de
cada coluna, certamente para reforçar a peça, fazendo o desenho de um ‘T’
invertido num corte transversal. Então usei essa parte avantajada para forrar a
face dianteira da coluna com a famosa fita adesiva Scotch cinza, transformando
o ângulo plano da coluna em uma angulosa formação triangular de 30°.
A crista central nas colunas...
...revestida com fita adesiva Scotch...
... funcionou como suporte de um revestimento triangular.
Antes e depois: diferença de 30 graus de inclinação.
Escolhi a fita Scotch por
ser barata, resistente e durável, com forte aderência. Fiz o procedimento
apenas nas colunas frontais da roda (cada coluna na verdade é constituída por
duas, unidas como a ponta de uma estrela), por serem a ‘borda de ataque’ da
roda contra o vento. Concluí que seria necessário apenas na roda dianteira, uma
vez a roda traseira não tem dimensões suficientes para fazer um ângulo que
fizesse diferença.
A aerodinâmica esperada com o procedimento.
Repito, numa moto com o
motor da arquitetura da Intruder 125, todo esforço no sentido de reduzir o peso
da moto e suas falhas aerodinâmicas é válido para que a moto possa fazer atuar
os seus modestos 11 cavalos (no meu caso, 13,5cv [1.000m em 43segundos],
segundo os últimos cálculos). Uma moto com cilindrada maior em geral não precisa
de tais preocupações, mesmo assim, eventualmente podem ter problemas com
aerodinâmica – as leis da física são implacáveis, e costumam sempre frustrar os
esforços do ser humano – especialmente motociclistas.
Falemos então dos resultados
da experiência. Talvez pelo ângulo insuficiente, talvez por deslocamentos colaterais
de ar (que neutralizam o efeito deslizante do ângulo), ou outra variável que
não detectei, não foi possível detectar melhoras em relação à roda normal,
mesmo porque eu não tinha como aferir isso, mas o conceito por trás dessa
tentativa é o que importa: se a Intruder 125 recebesse rodas raiadas ou de liga
leve com boa aerodinâmica, certamente haveria uma melhora notável de desempenho.
Uma roda de liga ideal: perfil o mais estreito possível (Yamaha YBR).
Concluindo, considerarei a
troca por rodas de raio ou de liga com design melhor (quando disponíveis) no
futuro. Por hora, tudo o que posso fazer é esperar, e deixar a dica de uma roda
ideal do ponto de vista aerodinâmico.
É possível aliar aparência, resistência e aerodinâmica numa roda de liga. Aqui vale o lema: 'menos é mais'.
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