Quando introduzi os
melhoramentos no filtro e no carburador da minha Intruder 125 e percebi que a
combinação foi bem sucedida, eu precisava saber se os resultados seriam
permanentes.
Assim, rodei sucessivamente quase
1.000 km colhendo diferentes resultados e impressões. Infelizmente, eu não pude
gravar os testes, por falta de dispositivo próprio, o que me faz dispor apenas da
boa-fé das minhas palavras.
É fato que a Intruder hoje em
dia, apesar de ser uma minicustom ‘estradeira’, é uma moto que atinge
velocidades acima de 100km em geral somente em descidas, enquanto que em
subidas costuma não passar dos 70 km, com seu motor de 11cv suprimido por
dispositivos antipoluição.
Então, o que eu fiz foi tentar
romper esses limites, a fim de tornar a Intruder uma pequena estradeira de
fato, como ela foi nos velhos tempos com seu motor de 12,5 cv.
No primeiro teste com o ‘turbo’,
eu cheguei a ‘colar o ponteiro’ sem esforço nos 120km/h numa descida suave, e
obter uma velocidade de cruzeiro de 105-110 em pista plana. Contudo, essas
marcas abaixaram cerca de 10%, e assim permaneceram.
Ficou a pergunta: Como a moto
pode apresentar um desempenho excelente e de repente retornar ao que era?
Comecei a investigar. Tirei a
vela, e percebi que ela estava totalmente esbranquiçada, sinal de uma mistura
pobre, não obstante a agulha estar 2mm acima do normal. Foi então que comecei a pensar:
Eu havia começado as mudanças
com a boca do coletor do filtro de ar. Depois mexi no filtro, usando um menos
denso, “superesportivo”. Em seguida, aumentei a gasolina na mistura, a qual
apesar de tudo, ainda permaneceu pobre, fazendo o desempenho decrescer.
Esquema das alterações feitas para superalimentação. Em destaque, o fluxo potencializado de ar e a mistura pobre, posteriormente corrigidas (ver carburador).
O motor de uma Intruder sai de
fábrica afinado como um violino, com todas as suas peças e sistemas
perfeitamente harmonizados. Quando interferimos em alguma parte desse conjunto
tentando otimizá-lo, inevitavelmente interferimos no todo. Quando eu
multipliquei o fornecimento de ar no carburador, eu alterei de certa forma a
velocidade com que a mistura é formulada e levada à câmara de combustão.
Ainda, o fluxo rápido de ar
estava levando combustível com mais velocidade à câmara do que a boia conseguia
encher a cuba, de modo que a mistura acabava invariavelmente pobre, mesmo com a
agulha sobre-elevada.
Para corrigir isso, visitei o
mecânico, pois eu precisava fazer alterações incisivas no carburador, não as
superficiais como fiz antes, para equilibrar a mistura de uma vez. Solicitei
então ao mecânico que abaixasse a boia 1mm e substituísse o gicleur de alta por
um maior.
Previamente, eu havia medido a boia, usando uma mangueira
transparente ligada ao dreno e encostada na junta da cuba do carburador (o que
nas aulas de Ciência se chama “Vasos Comunicantes”), ela estava a 5mm da junta,
então foi passada para 4mm, ou seja, o nível de gasolina na cuba ficou mais
alto. O gicleur, de 97,5, passou para 100. Com isso, a arruela que eu havia
posto sob a agulha se tornou dispensável, eu apenas providenciei um calço que
veio faltando no carburador, e que vai na agulha se encaixando em uma depressão
central dentro do cilindro do pistonete. Isso garantiu que a agulha ficasse 1mm
acima da trava, ao invés dos 2mm anteriores. Na verdade, agora ela está na sua
posição correta devido ao calço.
Gicleur nº 100 (www.scootcustom.com)
O 'calço', as peças de plástico abaixo das travas das agulhas do carburador VM22...
Se encaixam na depressão ao redor do furo da agulha, elevando a agulha 1mm. No carburador novo que comprei, a peça não veio, de modo que tive que forjá-la.
Ato contínuo, troquei a
mangueira de combustível do tanque para o carburador por uma de calibre maior,
para garantir a alimentação satisfatória da cuba.
Substituição por mangueira de alimentação de calibre maior (de baixo).
Isso feito, fui para a
estrada, e em seguida, chequei a vela. Finalmente, a vela indicou uma combustão
equilibrada, mas a moto continuou aquém do ‘recorde’ que obtive antes.
Provavelmente, aquele pico de desempenho aconteceu até que mais um detalhe do
conjunto revelasse sua desarmonia: a vela de ignição.
Coloração da vela: demonstra uma mistura em equilíbrio.
Marcando o fim do ciclo de
combustão, a vela é o que transforma a mistura em energia para movimentar o
pistão. Após superalimentar minha vela com o ‘turbo’ e as alterações no
carburador, agora devidamente equilibrados, a minha moto começou apresentar
alguns sintomas que sugerem uma deficiência de ignição da mistura:
- o contagiro, tanto no
circuito de baixa quanto de lenta, não se estabiliza.
- A moto apresenta pequenas
falhas em diferentes acelerações, outro sintoma ligado a problemas na vela. Embora
minha vela esteja ‘meia vida’, a questão é o ritmo de queima que parece estar
acima de sua capacidade – A superalimentação, principalmente da parte do ‘turbo’,
certamente provocou um descompasso na combustão na câmara, pela maior
compressão de ar.
- A moto apresenta cheiro de
gasolina – sinal de mistura não queimada, certamente por uma vela danificada ou
insuficiente.
No meio motociclístico,
fala-se muito sobre a vela “Iridium”, da fabricante NGK. Dizem que, devido ao
seu núcleo de liga de Irídio, um elemento de alta resistência e ponto de
derretimento (2.447°C), ela possui maior poder de queima (ignibilidade),
proporcionando economia, durabilidade e uma queima mais homogênea da mistura.
A famosa vela Iridium e a demonstração de seu poder de ignição (SR Motos Oficial).
Por hora, não vou apresentar
resultados de velocidade e suas respectivas rotações, nem cálculos de potência,
mesmo porque são bem semelhantes aos anteriores. Se o problema estiver
realmente na vela, eu preciso fechar o ciclo - Assim que eu usar a vela
Iridium, poderei saber se minha teoria faz sentido, e velocidade.
O processo de melhoria de um
motor é assim mesmo: lento, cheio de surpresas, descobertas, frustações,
ganhos, perdas... A Rolls-Royce levou 10 anos para fazer os aviões caça
Spitfire voar de 557km/h a 795km/h na década de 40. O próprio Burt Munro forjou
pessoalmente inúmeros pistões para sua Indian 1920 até conseguir seu recorde
inquebrável de velocidade.
Com o tempo, eu vou bater o
recorde dos 105-110km/h em velocidade de cruzeiro. É uma certeza.
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