terça-feira, 25 de outubro de 2016

TECNOLOGIA PURA

 Desde quando comecei a escrever este blog, eu tenho deixado clara minha postura diante das tecnologias ‘de ponta’ que têm feito parte de nossas vidas nas últimas décadas, especialmente nas motocicletas, o assunto que interessa aqui.

Quando customizei minha moto, eu procurei não apenas alterar sua aparência, mas sim sua mecânica – ela é totalmente ‘analógica’ com apenas os circuitos básicos elétricos, com excessão do painel que possui um mostrador digital das marchas, contudo, um item totalmente inútil que poderia ser removido sem problemas.

Recentemente, algo me aconteceu e me fez ver ainda mais claramente o quanto as novas tecnologias incorporadas em nossas motos já saem de fábrica ultrapassadas, e não é porque outra melhor já está disponível – é simplesmente porque as peças e componentes concebidos por engenheiros com os mais precisos cálculos e os mais rigorosos testes já saem das plantas das fábricas fadados ao fracasso.

No meu primeiro post, eu relatei como eu alterei meu manete de freio para reduzir a freada brusca do freio à disco, que sempre me levava ao chão – quando de repente se está prestes a ser atropelado, o sistema nervoso reflexo vai acionar primeiro a mão, já que está mais próxima do cérebro. Daí eu sempre questionar a razão por que as montadoras não colocam freio a disco na roda de trás, onde, além de ser mais eficaz, evitaria o risco de quedas o qual estou certo que não acontecia somente comigo.

Após ter esmerilhado a saliência do manete que acionava o pistão do freio, eu tive problemas com o interruptor do freio, que acabou ficando fora de alcance do contato com o manete. Resolvi isso com um anel de borracha, e o novo sistema funcionou bem, tanto o freio, que não me derrubou mais, quanto a sua sinalização.

Em vermelho: pistão do freio a disco e saliência do manete que o aciona, aqui esmerilhada (seta).

Até que, finalmente, o interruptor não funcionou mais. Removi a peça, a abri cuidadosamente, e encontrei um emaranhado de peças de metal que não demorou se desfazer ao menor toque da minha mão.

Circuito do interruptor do freio dianteiro: 5 peças móveis num sistema complexo.


Eu não sou técnico em eletrônica, mas sei manipular um circuito eletrônico com cuidado. Estudando as peças, a primeira impressão que tive foi a seguinte: ‘quanta complexidade apenas para um botão liga-desliga’.

Dali em diante, eu tinha três opções: restaurar o circuito, comprar um novo ou criar outro. Um novo custaria cerca de R$38,00, já que eu provavelmente teria que importar. Tentei sucessivamente remontar a peça, mas, como eu disse, a complexidade exigia a perícia de um relojoeiro. Então me restou tentar refazer o circuito, à minha maneira.

Pensei numa coisa simples, aproveitando a estrutura da peça que ainda estava funcional, e fiz um sistema liga-desliga por contato retrátil direto. Enquanto o circuito original tinha 5 peças móveis, o meu tinha apenas 3, como podem ver abaixo. Tenham isso em mente: o sucesso de um mecanismo está no menor número possível de peças móveis, isso é uma constante da mecânica ou de qualquer coisa que precise se mover para funcionar.

O circuito que elaaborei: apenas 3 peças móveis.

Montei a peça e levei até a moto. Foi necessário um furo na peça tanto no manete para uní-los (logicamente, isolei o parafuso). O meu circuito tinha outras modificações além das peças internas, devido aos meus recursos limitados, o meu circuito acabou ficando com sentido invertido, de modo que, para funcionar, ele deveria ser instalado no manete, ao invés do manicoto.

O meu circuito montado.

Mas qual o problema? A peça ficaria recuada o suficiente para não atrapalhar a funcionalidade do manete, e se este viesse a se quebrar, bastaria simplesmente que se transferisse a peça para o o novo manete. O mais importante é que funcionou.

Novo interruptor montado (em vermelho). A seta indica o novo curso que aciona o freio.

Aparência final, com um ponteira de borracha ocultando os parafusos.


Teste final: sem freio dianteiro (acima), com freio (abaixo).

Resolvi perder tempo e tomar o tempo alheio para mostrar, em pequena escala, o quanto as tecnologias milagrosas de hoje possuem uma complexidade desnecessária que acaba em disfunções juntamente com o aumento do custo para o consumidor. Um notável matemático cujo nome não lembro no momento disse que não importa o grau do problema, a solução é sempre invariavelmente simples.

Por que então não investir em tecnologias simples? Os russos venceram a Alemanha Nazista não porque seus blindados T-34 eram superiores, e sim porque eram de fabricação simples, podendo ser feitos em maior número do que os complexos Tiger alemães (que aliás se tornaram referência de blindados até a década passada).

Falando em Segunda Guerra, estou longe de ser um Tony Stark, estou mais para um Capitão América, no que diz respeito a aversão à tecnologia.

A única coisa que esse exibicionismo científico constrói são bombas relógios que nos mostra com o tempo o que interessa a indústria: obsolência programada, quebras precoces e total dependência em nome do dinheiro.

Aliás, o dinheiro funciona tão bem porque é simplíssimo: ou você pode pagar ou não pode, ficando assim de fora do jogo da tecnologia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário