Desde quando comecei a escrever este blog, eu tenho deixado
clara minha postura diante das tecnologias ‘de ponta’ que têm feito parte de
nossas vidas nas últimas décadas, especialmente nas motocicletas, o assunto que interessa aqui.
Quando customizei minha moto, eu procurei não apenas alterar
sua aparência, mas sim sua mecânica – ela é totalmente ‘analógica’ com apenas
os circuitos básicos elétricos, com excessão do painel que possui um mostrador
digital das marchas, contudo, um item totalmente inútil que poderia ser
removido sem problemas.
Recentemente, algo me aconteceu e me fez ver ainda mais
claramente o quanto as novas tecnologias incorporadas em nossas motos já saem de
fábrica ultrapassadas, e não é porque outra melhor já está disponível – é simplesmente
porque as peças e componentes concebidos por engenheiros com os mais precisos
cálculos e os mais rigorosos testes já saem das plantas das fábricas fadados ao
fracasso.
No meu primeiro post, eu relatei como eu alterei meu manete
de freio para reduzir a freada brusca do freio à disco, que sempre me levava ao
chão – quando de repente se está prestes a ser atropelado, o sistema nervoso
reflexo vai acionar primeiro a mão, já que está mais próxima do cérebro. Daí eu
sempre questionar a razão por que as montadoras não colocam freio a disco na
roda de trás, onde, além de ser mais eficaz, evitaria o risco de quedas o qual
estou certo que não acontecia somente comigo.
Após ter esmerilhado a saliência do manete que acionava o
pistão do freio, eu tive problemas com o interruptor do freio, que acabou
ficando fora de alcance do contato com o manete. Resolvi isso com um anel de
borracha, e o novo sistema funcionou bem, tanto o freio, que não me derrubou
mais, quanto a sua sinalização.
Em vermelho: pistão do freio a disco e saliência do manete que o aciona, aqui esmerilhada (seta).
Até que, finalmente, o interruptor não funcionou mais. Removi
a peça, a abri cuidadosamente, e encontrei um emaranhado de peças de metal que
não demorou se desfazer ao menor toque da minha mão.
Circuito do interruptor do freio dianteiro: 5 peças móveis num sistema complexo.
Eu não sou técnico em eletrônica, mas sei manipular um
circuito eletrônico com cuidado. Estudando as peças, a primeira impressão que
tive foi a seguinte: ‘quanta complexidade apenas para um botão liga-desliga’.
Dali em diante, eu tinha três opções: restaurar o circuito,
comprar um novo ou criar outro. Um novo custaria cerca de R$38,00, já que eu
provavelmente teria que importar. Tentei sucessivamente remontar a peça, mas,
como eu disse, a complexidade exigia a perícia de um relojoeiro. Então me
restou tentar refazer o circuito, à minha maneira.
Pensei numa coisa simples, aproveitando a estrutura da peça
que ainda estava funcional, e fiz um sistema liga-desliga por contato retrátil
direto. Enquanto o circuito original tinha 5 peças móveis, o meu tinha apenas
3, como podem ver abaixo. Tenham isso em mente: o sucesso de um mecanismo está
no menor número possível de peças móveis, isso é uma constante da mecânica ou
de qualquer coisa que precise se mover para funcionar.
O circuito que elaaborei: apenas 3 peças móveis.
Montei a peça e levei até a moto. Foi necessário um furo na
peça tanto no manete para uní-los (logicamente, isolei o parafuso). O meu
circuito tinha outras modificações além das peças internas, devido aos meus
recursos limitados, o meu circuito acabou ficando com sentido invertido, de
modo que, para funcionar, ele deveria ser instalado no manete, ao invés do
manicoto.
O meu circuito montado.
Mas qual o problema? A peça ficaria recuada o suficiente para
não atrapalhar a funcionalidade do manete, e se este viesse a se quebrar,
bastaria simplesmente que se transferisse a peça para o o novo manete. O mais
importante é que funcionou.
Novo interruptor montado (em vermelho). A seta indica o novo curso que aciona o freio.
Aparência final, com um ponteira de borracha ocultando os parafusos.
Teste final: sem freio dianteiro (acima), com freio (abaixo).
Resolvi perder tempo e tomar o tempo alheio para mostrar, em
pequena escala, o quanto as tecnologias milagrosas de hoje possuem uma
complexidade desnecessária que acaba em disfunções juntamente com o aumento do custo para o consumidor. Um notável matemático cujo
nome não lembro no momento disse que não importa o grau do problema, a solução é
sempre invariavelmente simples.
Por que então não investir em tecnologias simples? Os russos venceram a Alemanha Nazista não
porque seus blindados T-34 eram superiores, e sim porque eram de fabricação
simples, podendo ser feitos em maior número do que os complexos Tiger alemães
(que aliás se tornaram referência de blindados até a década passada).
Falando em Segunda Guerra, estou longe de ser um Tony Stark,
estou mais para um Capitão América, no que diz respeito a aversão à tecnologia.
A única coisa que esse exibicionismo científico constrói são bombas relógios que nos mostra com o tempo o que interessa a indústria: obsolência programada, quebras precoces e total dependência em nome do dinheiro.
Aliás, o dinheiro funciona tão bem porque é simplíssimo: ou você pode pagar ou não pode, ficando assim de fora do jogo da tecnologia.
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