Antes de mais considerações, eu queria começar do final, ou
melhor, do outro lado de todo motor: o escapamento.
Se fazemos com que o carburador receba mais ar, um dos
principais “alimentos” do motor, de acordo com as leis da física, essa
alimentação extra vai gerar um subproduto extra, no caso, os gases da queima
que saem pelo escapamento.
É bem verdade que o escapamento tem um papel imprescindível
no desempenho do motor – além de neutralizar os gases tóxicos e reduzir o
barulho, ele garante uma contrapressão sem a qual o motor não funcionaria de
forma eficaz.
Enfim, já que eu ‘turbinei’ minha Intruder, é sensato
considerar que meu sistema de escape pode não estar adequado à nova alimentação
do motor, apesar de tudo parecer normal. Vejam os resultados após 5 dias de
teste com o sistema turbo que criei:
- Mesmo nos limites de velocidade/ rotação, a moto não urra
nem treme, como acontecia nas configurações de fábrica.
- A retomada em qualquer marcha melhorou sensivelmente.
- O motor adquiriu um ronco ‘esportivo’, certamente devido à
maior saída de ar no escapamento. Pode ser ainda um indicativo de que a moto
está ‘pedindo’ um escapamento mais condizente com o maior volume de gases que
está sendo expelido (razão do ronco), motivo pelo qual adquiri um escapamento
original esportivo, o qual estou esperando para testar.
- Até onde foi verificado, a mistura está balanceada
(coloração da vela, ver post anterior).
- A 3ª e 4ª marcha ficaram tão longas quanto eram com o
pinhão de 16 dentes, sendo que a 4ª praticamente atinge os 100 km/h antes de
‘pedir’ a 5ª marcha (na estrada).
- Não houveram danos na caixa do filtro de ar ou no filtro.
Apenas surgiram pequenos aglomerados de poeira no fundo da caixa, certamente
oriundos de uma fresta que ficou na caixa de ar quanto mudei a posição do
coletor. A tela metálica da caixa também permaneceu íntegra, e sua malha foi
suficiente para conter os grânulos mencionados – felizmente, a caixa de ar tem
uma espécie de ‘ralo’ para onde são expelidas sujidades como essas.
À esquerda: o 'ralo' da caixa de ar: dreno para escoar impurezas que acabam num reservatório (mangueira à direita).
- Houve descolamento da tampa do coletor após o parafuso inferior,
certamente onde o impacto do ar foi mais forte. Removi o conjunto e reforcei a
aplicação de silicone, inclusive na parte de dentro, tomando cuidado para não
deixar rebarbas e resíduos soltos.
Reforço na selagem interna do coletor.
- Quando fui limpar a caixa de ar e o coletor, que estavam
empoeirados, fiapos da flanela ficaram grudados e ‘espetados’ na superfície de
ambos. Mais comum em metais, este é um fenômeno de imantação, ou magnetização,
através da fricção do ar, gerando eletricidade estática na superfície do
material. Como eu disse, isso é mais comum em metais, e para o mesmo efeito
ocorrer no plástico, deve haver uma fricção excepcional. Mais uma evidência de
que o ar em alta velocidade passou e entrou no coletor.
Acima e abaixo (círculos vermelhos) - fiapos de flanela que ficaram presos pela eletricidade estática por fricção.
- Consumo: Nos cerca de 20km que percorri a pleno vapor,
consumi cerca de meio tanque. Este aumento de consumo já era previsto, e mais
um indicativo de que o motor trabalhou mais, além da margem média. É como uma
vela acesa: com a presença de uma corrente de ar, ela se consome mais
rapidamente. Por outro lado, isso indicou o que eu já disse em outro post – o
tanque da Intruder tem uma capacidade preocupante para um alto desempenho
(10,5L).
- Com o ingresso abrupto de ar, a limpeza do filtro de ar e
do carburador deverão ser mais frequentes, o que ainda diminuirá a sua vida
útil. Será o que farei em breve, para saber até que ponto o sistema turbo está
afetando o motor.
- No final, o principal: a chuva. Desde o princípio, foi a
minha preocupação maior – com a entrada de ar do coletor aumentada e colocada
numa posição de risco de entrada de água fosse da chuva fosse da pista molhada,
fiz o ‘teste de água’ com a primeira chuva forte da temporada de águas no
centro do país. A moto funcionou perfeitamente, não tive qualquer problema
(salvo que fiquei encharcado). Cheguei em casa, retirei o filtro, estava tudo
seco, inclusive a caixa de ar. Apenas o o coletor estava molhado, mas a própria
tensão estática que comentei acima foi útil ao manter a água em sua superfície,
evitando que ela fosse para o filtro de ar.
Esses são, portanto, os resultados imediatos do uso do
“Sistema Turbo” na Intruder. Até então, são mais prós do que contras, mas só o
tempo dirá o real custo-benefício dessa modificação.
E há ainda a questão do escapamento, sem a qual não dá para
fechar a equação. Mas essa variável não demorará a ser medida, e receberá um
post exclusivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário