Quando se diz que um motor possui 125cc na verdade significa
que a câmara (ou ‘camisa’) onde se dá a explosão da mistura ar/gasolina possui
125 centímetros cúbicos de diâmetro, ou em termos caseiros, 125 ml de volume, o
equivalente a um copo americano.
Antes de abordarmos os conceitos de velocidade e torque,
vamos falar mais um pouco sobre o funcionamento do motor, através de sua
comparação com uma arma de fogo.
A explosão dessa mistura provocada pela vela de ignição é
que vai impelir o pistão que por sua vez transferirá seu movimento através da
biela ao virabrequim, o qual, auxiliado pelo volante cinético, a massa metálica
que vai garantir a continuidade do movimento circular, vai gerar a força motriz
distribuída pelas engrenagens da transmissão até chegar ao pinhão, peça sobre a
qual falamos no último tópico.
Em termos práticos, um motor funciona como uma arma de fogo:
o cão da arma aciona a agulha que detona a espoleta (vela), que queima a
pólvora (mistura de gases) alojada no estojo/ cartucho (camisa), que por sua vez
explode e arremessa o projétil (pistão). A diferença é que a energia gerada
pela arma de fogo é projetada em linha reta, enquanto que no motor é convertida
num círculo ou ciclo, de modo que o pistão (o projétil, o qual acaba seu
movimento no alvo) nunca deve cessar seu movimento pelo menos enquanto se quer
que o motor funcione.
Comparação da munição de uma arma de fogo com o motor: o propulsor seria a mistura, a bala seria o pistão.
Ainda se aproveitando dessa comparação, se quisermos
aumentar a velocidade do projétil, existem os seguintes meios:
- melhorando a qualidade do propulsor (pólvora);
- aumentando a sua quantidade (o que implica no aumento do
cartucho, o que só é possível se o carregador da arma comportar alterações;
- aumentando o comprimento do cano e/ou seu raiamento;
- diminuir o peso do projétil.
Tanto quanto numa arma de fogo, nem todas as medidas acima
podem ser aplicadas num motor, muito embora possa se lançar mão de outras
opções, em especial o ‘propulsor’, ou a mistura de ar/gasolina.
Ela é a quintessência do desempenho de um motor. Eu acredito
piamente que se a gasolina brasileira fosse de qualidade, livre de álcool, água
ou qualquer substância alheia, com alta octanagem como é a gasolina, dizem, da
Venezuela e dos EUA, não haveria
necessidade de preocupação em fazer proezas para um motor 125 apresentar seu
rendimento máximo. Contudo, isso hoje é uma utopia no Brasil, país dono de uma
das maiores petrolíferas do mundo, e que vende gasolina batizada por lei...
Como eu disse antes, é possível fazer um pistão 125cc
trabalhar rápido o suficiente para se equiparar a um pistão 150cc, mas isso não
igualará as motos em potência, ou ‘torque’,
a capacidade que a moto tem, por exemplo, de manter sua velocidade numa
subida ou com certa quantidade de peso extra com a mesma velocidade. Uma 125
continuará como tal, ela apenas receberá melhoramentos que permitirão seu motor
gerar trabalho que em geral se refletirá em mais velocidade final e retomadas.
Para isso, resta, portanto uma opção, além de trabalhar a
mistura, ou ‘pólvora: trabalhar o “raiamento” da moto. No Paraná, ouvi muito
caçadores falarem de uma tal pólvora “piquete”, que dava muito mais velocidade
aos chumbos e balotes das espingardas, isso seria um exemplo de como o propulsor
é imprescindível na aquisição de mais velocidade seja numa seja numa arma de
fogo, seja numa moto.
Já o raiamento contribui de forma ainda mais significante
nesse efeito: o raiamento, ou “alma” do cano das armas, são as ranhuras na sua
parte interna dispostas em espiral à esquerda ou à direita. Quanto mais raias
um cano tiver, maior será a velocidade do projétil e consequentemente, com o propulsor
devido, o alcance do mesmo.
O que isso teria a ver com uma moto? A relação está para a
moto como o raiamento para a arma de fogo. Até um certo ponto, quanto maior for
o pinhão, maior a velocidade da moto, já que, precisando girar menos, ele faz a
coroa completar sua volta mais rapidamente, e assim movimentar a roda mais
rápido, isso é, se a coroa tiver número de dentes condizentes.
Analogia entre o pinhão e o raiamento de um cano de arma de fogo (visão de frente): ambos influenciam na velocidade.
Foi o caso da relação 16 x 43 na Intruder 125. Convém
pontuar: assim como a arma de fogo tem um limite para mais raiamentos, o pinhão
possui um nível crítico para receber mais dentes. A comparação com armas de
fogo é meramente para ilustrar como as leis Mecânica newtoniana atuam de forma
parecida em diferentes construtos.
Por exemplo, numa arma de fogo o “torque” seria o poder de
penetração do projétil, independentemente da distância e do material do alvo.
Poderíamos dizer que um fuzil tem grande torque se comparado com uma pistola 9
mm, pois ele conserva a velocidade e o poder de penetração independente da
distância e do obstáculo, afinal ele foi projetado para isso.
A velocidade é a razão espaço/ tempo que o projétil
desenvolve com sua deflagração na arma, variável segundo as condições
comentadas anteriormente. Enquanto uma arma leve desenvolve em torno de 400
m/s, armas longas disparam balas em torno de 700-800 m/s, ou ainda mais.
Assim, numa motocicleta, o torque é a capacidade da moto de
manter seu desempenho não obstante aclives, vento, carga, etc. é o típico caso
do esforço que ela precisa fazer numa subida íngreme: quanto menor a marcha
necessária para a subida, menor o torque do motor.
Veículos de esteira têm motores próprios para desenvolverem torque mesmo situações de grande esforço (obstáculos, terrenos instáveis, carga, etc.). Mesmo com mais de 900 cv de potência, como o blindado acima, sua velocidade em geral fica em torno dos 80 km/h.
Já a velocidade é a capacidade de a moto converter a força
do motor diretamente em aceleração progressivamente, geralmente desenvolvendo
toda a sua capacidade máxima nas marchas mais altas.
Velocidade e Torque podem estar combinadas num motor de
motocicleta de acordo com sua potência. Já motos de baixa cilindrada, em geral,
ambos se encontram nitidamente separados através das marchas próprias para
força (torque) e para velocidade (marchas finais).
Repetindo o que já relatei, ao experimentar a relação 16x43,
percebi mais velocidade final nas marchas, mas uma ligeira perda de força em
subidas, mesmo nas marchas fortes. Quando introduzi uma nova modificação
melhorando a admissão de ar do motor, a moto pareceu ter recuperado sua antiga
força: com mais fôlego, ele recuperou sua capacidade de realizar trabalho de
forma harmonizada. Por exemplo, antes minha Intruder fazia uma subida leve a 50
km/h em 4ª marcha a 6.000 rpm. Com as modificação, ela faz o mesmo trecho a 60
km/h em 4ª marcha a 5.000 rotações.
A seguir, terei a chance de demonstrar através de vídeo
esses dados.
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