domingo, 21 de agosto de 2016

VELOCIDADE X TORQUE

Quando se diz que um motor possui 125cc na verdade significa que a câmara (ou ‘camisa’) onde se dá a explosão da mistura ar/gasolina possui 125 centímetros cúbicos de diâmetro, ou em termos caseiros, 125 ml de volume, o equivalente a um copo americano.

Antes de abordarmos os conceitos de velocidade e torque, vamos falar mais um pouco sobre o funcionamento do motor, através de sua comparação com uma arma de fogo.

A explosão dessa mistura provocada pela vela de ignição é que vai impelir o pistão que por sua vez transferirá seu movimento através da biela ao virabrequim, o qual, auxiliado pelo volante cinético, a massa metálica que vai garantir a continuidade do movimento circular, vai gerar a força motriz distribuída pelas engrenagens da transmissão até chegar ao pinhão, peça sobre a qual falamos no último tópico.

Em termos práticos, um motor funciona como uma arma de fogo: o cão da arma aciona a agulha que detona a espoleta (vela), que queima a pólvora (mistura de gases) alojada no estojo/ cartucho (camisa), que por sua vez explode e arremessa o projétil (pistão). A diferença é que a energia gerada pela arma de fogo é projetada em linha reta, enquanto que no motor é convertida num círculo ou ciclo, de modo que o pistão (o projétil, o qual acaba seu movimento no alvo) nunca deve cessar seu movimento pelo menos enquanto se quer que o motor funcione.

Comparação da munição de uma arma de fogo com o motor: o propulsor seria a mistura, a bala seria o pistão.

Ainda se aproveitando dessa comparação, se quisermos aumentar a velocidade do projétil, existem os seguintes meios:

- melhorando a qualidade do propulsor (pólvora);

- aumentando a sua quantidade (o que implica no aumento do cartucho, o que só é possível se o carregador da arma comportar alterações;

- aumentando o comprimento do cano e/ou seu raiamento;

- diminuir o peso do projétil.

Tanto quanto numa arma de fogo, nem todas as medidas acima podem ser aplicadas num motor, muito embora possa se lançar mão de outras opções, em especial o ‘propulsor’, ou a mistura de ar/gasolina.

Ela é a quintessência do desempenho de um motor. Eu acredito piamente que se a gasolina brasileira fosse de qualidade, livre de álcool, água ou qualquer substância alheia, com alta octanagem como é a gasolina, dizem, da Venezuela  e dos EUA, não haveria necessidade de preocupação em fazer proezas para um motor 125 apresentar seu rendimento máximo. Contudo, isso hoje é uma utopia no Brasil, país dono de uma das maiores petrolíferas do mundo, e que vende gasolina batizada por lei...

Como eu disse antes, é possível fazer um pistão 125cc trabalhar rápido o suficiente para se equiparar a um pistão 150cc, mas isso não igualará as motos em potência, ou ‘torque’,  a capacidade que a moto tem, por exemplo, de manter sua velocidade numa subida ou com certa quantidade de peso extra com a mesma velocidade. Uma 125 continuará como tal, ela apenas receberá melhoramentos que permitirão seu motor gerar trabalho que em geral se refletirá em mais velocidade final e retomadas.

Para isso, resta, portanto uma opção, além de trabalhar a mistura, ou ‘pólvora: trabalhar o “raiamento” da moto. No Paraná, ouvi muito caçadores falarem de uma tal pólvora “piquete”, que dava muito mais velocidade aos chumbos e balotes das espingardas, isso seria um exemplo de como o propulsor é imprescindível na aquisição de mais velocidade seja numa seja numa arma de fogo, seja numa moto.

Já o raiamento contribui de forma ainda mais significante nesse efeito: o raiamento, ou “alma” do cano das armas, são as ranhuras na sua parte interna dispostas em espiral à esquerda ou à direita. Quanto mais raias um cano tiver, maior será a velocidade do projétil e consequentemente, com o propulsor devido, o alcance do mesmo.

O que isso teria a ver com uma moto? A relação está para a moto como o raiamento para a arma de fogo. Até um certo ponto, quanto maior for o pinhão, maior a velocidade da moto, já que, precisando girar menos, ele faz a coroa completar sua volta mais rapidamente, e assim movimentar a roda mais rápido, isso é, se a coroa tiver número de dentes condizentes.


Analogia entre o pinhão e o raiamento de um cano de arma de fogo (visão de frente): ambos influenciam na velocidade.


Foi o caso da relação 16 x 43 na Intruder 125. Convém pontuar: assim como a arma de fogo tem um limite para mais raiamentos, o pinhão possui um nível crítico para receber mais dentes. A comparação com armas de fogo é meramente para ilustrar como as leis Mecânica newtoniana atuam de forma parecida em diferentes construtos.

Por exemplo, numa arma de fogo o “torque” seria o poder de penetração do projétil, independentemente da distância e do material do alvo. Poderíamos dizer que um fuzil tem grande torque se comparado com uma pistola 9 mm, pois ele conserva a velocidade e o poder de penetração independente da distância e do obstáculo, afinal ele foi projetado para isso.

A velocidade é a razão espaço/ tempo que o projétil desenvolve com sua deflagração na arma, variável segundo as condições comentadas anteriormente. Enquanto uma arma leve desenvolve em torno de 400 m/s, armas longas disparam balas em torno de 700-800 m/s, ou ainda mais.

Assim, numa motocicleta, o torque é a capacidade da moto de manter seu desempenho não obstante aclives, vento, carga, etc. é o típico caso do esforço que ela precisa fazer numa subida íngreme: quanto menor a marcha necessária para a subida, menor o torque do motor.

Veículos de esteira têm motores próprios para desenvolverem torque mesmo situações de grande esforço (obstáculos, terrenos instáveis, carga, etc.). Mesmo com mais de 900 cv de potência, como o blindado acima, sua velocidade em geral fica em torno dos 80 km/h.

Já a velocidade é a capacidade de a moto converter a força do motor diretamente em aceleração progressivamente, geralmente desenvolvendo toda a sua capacidade máxima nas marchas mais altas.

Velocidade e Torque podem estar combinadas num motor de motocicleta de acordo com sua potência. Já motos de baixa cilindrada, em geral, ambos se encontram nitidamente separados através das marchas próprias para força (torque) e para velocidade (marchas finais).

Repetindo o que já relatei, ao experimentar a relação 16x43, percebi mais velocidade final nas marchas, mas uma ligeira perda de força em subidas, mesmo nas marchas fortes. Quando introduzi uma nova modificação melhorando a admissão de ar do motor, a moto pareceu ter recuperado sua antiga força: com mais fôlego, ele recuperou sua capacidade de realizar trabalho de forma harmonizada. Por exemplo, antes minha Intruder fazia uma subida leve a 50 km/h em 4ª marcha a 6.000 rpm. Com as modificação, ela faz o mesmo trecho a 60 km/h em 4ª marcha a 5.000 rotações.


A seguir, terei a chance de demonstrar através de vídeo esses dados.

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